quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Agrotóxico pode ter sido causa da mortandade de abelhas em Barra do Rio Azul (RS)


O apicultor Evandro Bagnara, de Barra do Rio Azul, perdeu 48 colméias das 60 que possuía. Em outras duas propriedades vizinhas ocorreu a morte de mais 32 colméias. Apesar da boa reserva de mel, na propriedade do Bagnara apareceram montes de abelhas mortas e algumas colméias, com poucas abelhas vivas definhando. Aquelas que estavam vivas pareciam desorientadas, perdidas ou agonizando sem conseguir voar.

“Tinha enxames com oito a 10 quilos de mel que seriam colhidos em setembro”, lamenta Bagnara. Ele diz que só com a produção de mel deixou de ganhar cerca de R$ 7 mil no ano. O produtor avalia que, somando o tempo gasto, o material e os investimentos para recuperar a atividade, as perdas devem chegar a R$ 30mil.

De acordo com o assistente técnico regional da Emater/RS-Ascar de Erechim, Carlos Angonese, as abelhas morreram, provavelmente, em função de agrotóxicos. “Os sintomas são semelhantes aos produzidos por um agrotóxico que controla formigas. Este produto é aplicado junto com a dessecação de coberturas verdes de inverno, para o plantio da safra de verão. Como as coberturas verdes possuem flores, as abelhas não detectam o produto e carregam para dentro da colméias”, explica Angonese.

Formigas e abelhas

Segundo ele, o efeito é semelhante ao que acontece no formigueiro. “As formigas e abelhas são seres sociais onde cada uma exerce sua função. Quando esta estrutura é quebrada, larvas não são mais alimentadas, a rainha também não recebe os cuidados necessários, o soldado não defende mais a colméia, as abelhas parecem enfraquecidas e intoxicadas e dentro de 10 a 15 dias a colméia perece”, explica, ao destacar que, “como nestas áreas existem muitas flores, as abelhas levam o agrotóxico para o interior das colméias e morrem desorientadas. Este agrotóxico, desorganiza os himenópteros, que são insetos que vivem em colônias”, explica o técnico.

Na verdade, avalia Angonese, o prejuízo é muito maior que os 80 enxames perdidos pelos apicultores, porque este é o numero de colméias que eram manejadas pelo apicultor, “mas existe um grande numero de colméias que vivem em abrigos naturais, tais como ocos de árvores, tocos e pedras, entre outros locais, seja da abelha Apis (italiana x africana), seja dos meliponídeos, que são as abelhas nativas”.

Para os agricultores que vivem num raio de três quilômetros desta região, as perdas de produtividade nas frutíferas e nas culturas de lavouras serão significativas, já que a população de insetos polinizadores será diminuída significativamente, alerta Angonese.

Ele ressalta ainda que poderá haver problemas para o meio ambiente porque foi subtraída toda uma categoria de insetos, o que deverá influenciar na cadeia alimentar e na polinização.

“As perdas para o apicultor representaram 80% das colméias e por conseqüência 1800 kg de mel a menos da principal renda”, calcula Angosene, ao projetos, para os vizinhos de Evandro Bagnara, 100% das colméias e 100% da produção. “Eles não terão mel nem para a subsistência”, diz o técnico. Já o produtor Bagnara aconselha que para que isso não ocorra novamente e que não sejam causados mais prejuízos, os produtores usem o formicida de forma correta em suas lavouras.


Por Terezinha Mariza Vilk, Emater/RS-Ascar - Regional de Erechim

Foto, crédito: Divulgação Emater/RS-Ascar: abelhas mortas

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