quinta-feira, 16 de setembro de 2010

As cidades têm solução?

Por Danuza Mattiazzi - jornalista participante do Curso de Jornalismo Ambiental do NEJ-RS

Estamos distantes da natureza e cegos, confiamos excessivamente na ciência e acreditamos que a tecnologia pode resolver todos os problemas que as cidades enfrentam hoje. Esse é o diagnóstico do professor Rualdo Menegat, doutor em Ecologia de Paisagem, sobre a sociedade atual. Ele propõe algumas mudanças que podem soar estranhas, como a instalação de chiqueiros nas cidades e a manutenção dos carroceiros. Ele defende a integração com o ambiente natural e a manutenção das diferentes culturas, no caminho inverso da homogeneização e urbanização em um “xadrez perfeito”.

A temática ambiental ficou popular recentemente no Hemisfério Sul. Na década de 90, países do Hemisfério Norte já sofriam com catástrofes ambientais agravadas pelo aquecimento global já anunciado pelos cientistas. Já no Hemisfério Sul, Menegat diz que a atenção às mudanças climáticas começou no início do século 21, especialmente com o ciclone Catarina, que atingiu os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em março de 2004. O fenômeno vitimou e feriu dezenas de habitantes, destruiu casas e causou prejuízos à agricultura.

– “Foi o mais importante evento climático da década, pois de fato mostrou algo em ação no clima da Terra para o Hemisfério Sul” – esclarece o doutor.

O aquecimento global contribui com o agravamento das catástrofes ambientais. Conforme explica Menegat, o aumento da concentração de CO2 na atmosfera, devido à poluição, combinado com a diminuição da umidade do ar, faz com que as precipitações sejam mais concentradas e intensas em determinadas áreas e menos freqüentes em outras, aumentando nestas a ocorrência de incêndios.

Ao citar eventos ambientais do último ano – como fortes nevascas na Inglaterra, deslizamentos de terra em Santa Catarina e inundações pelo Brasil – o pesquisador defende que a população esquece muito rápido dos desastres. “Os humanos não estão sabendo ter a leitura do mundo em que vivem. Não conseguem mais interpretar a paisagem”, diz ele, ao mostrar uma foto em que mãe e filho caminham indiferentes aos destroços de uma cidade destruída por enchentes.

Outra imagem que ilustra a falta de compreensão da sociedade sobre os desastres ambientais é a foto de dezenas de pessoas sendo alcançadas pelo tsunami que atingiu a ilha de Sumatra, na Indonésia, vitimando 230 mil pessoas em dezembro de 2004. Segundo Menegat, muitas pessoas assistiram à invasão da onda gigante até o momento em que foram engolidas pela força da água. “Tiravam fotos, gravavam. Achavam que não seriam atingidas? As pessoas não têm consciência da força da natureza. O tsunami de Sumatra é o signo da cegueira da atual civilização perante a natureza”.

Natureza e cultura
Menegat discute a relação entre a natureza e a cultura dos povos, ou seja, de que forma a humanidade se insere no meio natural. Com a construção das cidades, foram criados grandes centros urbanos que limitam a visão de mundo de seus habitantes. “Quem mora aqui dentro [em referência a uma grande cidade], está enclausurado, encapsulado por esses centros urbanos. A cidade não oferece ao cidadão informações fundamentais para que ele olhe a paisagem e a leia”.

As metrópoles já evoluíram para mega-cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. E, para que consigamos viver sem o caos do ritmo acelerado e da poluição nesses espaços, o doutor diz que é necessário tornarmos as cidades mais sustentáveis e buscarmos o contato com o meio natural e o respeito aos limites que a natureza impõe.

Para exemplificar a idéia, Menegat cita o problema enfrentado pela cidade de Arequipa, no Peru. Com 850 mil habitantes, a cidade se expandiu até a saia de um vulcão. O prefeito pediu a ajuda de Menegat para solucionar o problema. “A ciência pode desenvolver uma enorme rolha e tapar o vulcão, que tal?”, brinca o cientista. A colocação irônica de Menegat ilustra a maneira com que os seres humanos confiam na ciência. Ocupam territórios com alto risco de acidentes ambientais sem se preocupar com os riscos e, assim, se prevenir. Mas, depois, querem que a tecnologia solucione a questão. “Nosso problema não é o vulcão, e sim, a cidade. É o peso urbano sobre nós, é a cidade que nos pesa, não a natureza”. Por isso, a resposta do cientista ao governante peruano foi a sugestão de reunir as comunidades, esclarecer sobre os riscos de se morar próximo a um vulcão que pode entrar em erupção a qualquer momento e desenvolver estratégias segundo a cultura local e consenso da população.

Presos no xadrez urbano
Um dos principais problemas das megalópoles, segundo Menegat, é a geometria urbana. A imposição do desenho de um “xadrez perfeito” para as cidades compromete a integração com o ambiente natural. O modelo predominante desde a era das colonizações pôs fim ao ideal de cidade ecológica – posto em prática na cidade Ur, da antiga Mesopotâmia. Ur foi construída segundo o curso do rio Eufrates, respeitando o caminho da água e tentando somente proteger os habitantes das enchentes.

Com o estabelecimento do modelo de tabuleiro, não se pensou mais na natureza. “Segundo o ‘xadrez perfeito’, o rio não pertence à geometria da cidade. Ele só atrapalha. Aí todo mundo larga o lixo ali, já que aquilo não pertence ao tabuleiro urbano perfeito. O mesmo acontece com algum morro que impede a linha reta das ruas. O que fazer? Destruir o morro. Nada pode atrapalhar a geometria urbana”, aponta Menegat.

Ele defende ações locais para inclusão de atitudes ecológicas e ampliação da visão de mundo das pessoas. A proposta é unir cientistas, estudantes, políticos e habitantes das comunidades para discutir soluções inteligentes e que respeitem a cultura de cada grupo.

Chiqueiros urbanos
Uma das alternativas para uma cidade sustentável é a criação de animais no meio urbano. Menegat defende que chiqueiros e aviários podem contribuir com o metabolismo das cidades – ao consumirem os restos de comida da população – e gerar renda a famílias que sofrem com o desemprego.

Outra proposta de Menegat é a manutenção das favelas. “Temos que criar condições de vida nesses locais e não removê-los”, defende ele, ao dizer que os moradores de áreas pobres construíram uma sociedade organizada segundo seus padrões culturais, só precisam de saneamento, segurança e boas escolas para que vivam com qualidade.

“Remover um grupo de catadores de materiais recicláveis, por exemplo, e colocá-los em apartamentos é um grande erro. Eles precisam de casas, um galpão onde possam guardar os materiais que recolhem e um estábulo para cuidar dos cavalos que puxam suas carroças”.

A retirada dos carroceiros das ruas de Porto Alegre – ação que deve ser concluída pela prefeitura até 2011 – é condenada pelo cientista. “Essas pessoas, excluídas do mercado de trabalho, criaram uma profissão por elas mesmas. E, agora, vamos tirar isso delas?”.

Uma das alternativas consiste em dar melhores condições de trabalho para esses profissionais, como carroças elétricas já em funcionamento em Curitiba, no Paraná.

Menegat defende que os catadores precisam de uma política pública que respeite o ritmo de trabalho que construíram, sem retirar deles o que têm de mais genuíno, uma profissão que criaram segundo a sua cultura e suas necessidades.

O ideal brasileiro de cidades melhores, segundo Menegat, tem que respeitar a cultura local. “Não somos a Europa e nunca seremos. Temos que lidar com os nossos problemas”.

O meio ambiente exige que a consciência seja convertida em ação

Por Leila Boscato Garcia - jornalista participante do Curso de Jornalismo Ambiental NEJ-RS

O ser humano pode ser caracterizado como cego, como inconsciente, como pessimista ou otimista demais, quando se fala da sua relação com o meio ambiente. Mas, independente do posicionamento adotado, o certo é que, os discursos que emanam das diversas áreas da sociedade convergem para necessidade de adotar uma nova postura menos destrutiva e mais altruísta.

Onde está a natureza? A pergunta colocada pelo geólogo Rualdo Menegat avalia a estrutura física, cultural e sistêmica da sociedade e caracteriza o ser humano como cego. Cego diante do mundo que o cerca, do modo como vive e por que vive, dos danos que causa a si, ao planeta e aos outros seres vivos, mas, principalmente, cego diante dos sinais que a natureza apresenta. Mas, será cegueira ou uma espécie de consciência inconsciente? A tentativa continuada de alterar o comportamento inadequado da sociedade, em relação à natureza, esbarra num modelo estrutural mantido por governos, corporações e pelas decisões dos indivíduos.

É comum entre as diversas áreas de conhecimento e setores da sociedade tentar encontrar modelos ou métodos param promover a conscientização. Trata-se do resultado da educação ambiental, cada vez mais constante devido aos eventos ambientais desastrosos que abalam diversas localidades do globo. Neste momento, as pessoas reconhecem atitudes inadequadas e passam a ações menos prejudiciais. A diferença entre a cegueira e a consciência inconsciente é que, no primeiro caso, as pessoas negam seu papel e responsabilidade, observam as ocorrências com distanciamento, são expectadores. “As pessoas só assistem aos eventos, não se propõem uma reflexão sobre o que está ocorrendo”, observa Menegat.

Já no segundo caso, as pessoas reconhecem que suas ações são danosas, mas não alteram seu comportamento, ou seja, é quando a consciência não leva à ação. A socióloga Maria Cristina França afirma que os comportamentos diferenciados resultam de vários fatores, entre os quais, as condições concretas de existência, como origem, estrutura de classe, e escolarização ou o acesso desigual às informações, que condicionam o empobrecimento ou enriquecimento do conteúdo de antigas convicções. “Trata-se, nas duas possibilidades, de um grau maior ou menor de coerência interna,entre padrões de ação e de representação elaborados simultaneamente pelos grupamentos sociais nas suas práticas cotidianas”, conclui França.

Menegat aponta a adoção da cidade hipodâmica, proveniente da Grécia Antiga e expandida mundo afora ao longo dos séculos, como princípio para o modelo social baseado na exploração e consumo dos recursos naturais sem controle. “A cidade cortou os vínculos com a natureza, ela não oferece ao cidadão uma cosmovisão do lugar que ocupa e impede a leitura das paisagens”, explica Menegat. Outros elementos denotam o comportamento social com base na linerialidade do ciclo de extração, produção, distribuição, consumo e descarte dos bens e serviços. Além do antropocentrismo, a mundialização do capitalismo, após a Segunda Guerra Mundial que, por sua vez, emerge junto aos avanços científicos e tecnológicos e às preocupações ambientais. “A natureza não tem tapete”, argumenta Menegat. Contudo, todas as colocações ainda se mostram ineficientes para alterar os padrões de vida prejudiciais.

Afinal, como acabar com a cegueira e a consciência inconsciente? Menegat aposta no diálogo entre as culturas para criação de uma nova consciência, do papel e condição do ser humano diante do meio ambiente natural e artificial. França complementa fixando o desenvolvimento sustentável como foco do debate. “Deve-se avaliar os problemas ambientais globais e locais, interligando as questões de sustentabilidade e justiça estendidos a todas camadas da sociedade”, explica França. Outra alternativa, baseia-se na técnica do “rappor”, da persuasão, defendida pelo jornalista Fernando Antunes. É a tentativa de encontrar um ponto positivo nas ações negativas, individuais ou grupais, e convertê-lo em consciência e ação. Assim, não se utilizariam discursos educativos e invasivos para modificar as ideologias, mas uma condução à atitude correta com relação ao todo. Está aí inserido o conceito dos mapas individuais, ou seja, as referências pessoais, que não devem ser invadidas, mas conhecidas e reestruturadas através da reflexão.

Nas variadas perspectivas exige-se a alteração no comportamento dos sujeitos, sobre suas práticas cotidianas, que passa pela compreensão, conscientização e concordância do sujeito para obter novos princípios de orientação sobre suas práticas. Assim, depende-se de atos individuais e movimentos coletivos comprometidos com a promoção, sensibilização, e transmissão de conhecimento, cujas ações resultem em transformações. É uma tentativa permanente que, embora urgente, se faz ao longo do tempo, partindo do entendimento que não é o planeta que corre risco, mas os seres que dependem dele, a sociedade que pode perecer.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Menegat e a invisibilidade da natureza

Por Rafaela Haygertt, participante do curso de Jornalismo Ambiental NEJ-RS


Nos dias 20 e 21 de agosto, o Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ-RS) promoveu um curso de Jornalismo Ambiental para discutir os desafios da cobertura do meio ambiente. O evento, que aconteceu no auditório da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS (Fabico), integrou as comemorações dos 20 anos do NEJ-RS e reuniu 37 pessoas, entre estudantes e profissionais interessados pelo tema.

A palestra de abertura ocorreu na noite de sexta-feira, dia 20 de agosto, e foi ministrada pelo geólogo, pesquisador e professor da UFRGS, Rualdo Menegat, que discorreu sobre a cegueira do ser humano em relação à natureza. Segundo o pequisador, o hemisfério sul vive uma década com diversos fenômenos naturais não comuns, e trouxe o exemplo dos ciclones extratropicais, como ocorreu em Santa Catarina, em 2004, além dos terremotos que despertam pavor às populações.

Com todas essas manifestaçãos naturais, afirma Menegat, a natureza tem se mostrado "um problema para os cidadãos urbanos". Entretanto, ressalta que tais mudanças não são problemas da natureza e, sim, do ser humano que lhe dá as costas. Todos estes fenômenos, explica o pesquisador, tem servido para mostrar que a humanidade desafia a natureza ao se aproximar cada vez mais das áreas de risco. É o que Menegat denomina de "cegueira da civilização humana contemporânea", em relação à natureza.

O geólogo alertou sobre a necessidade de aprendermos com os nossos erros, já que, segundo ele, não houve nenhuma cidade que não tenha sofrido com as inundações nestes últimos anos, as quais atingem em maior escala as populações que ocupam as áreas de risco.

No entanto, o mais problemático dos fenômenos, segundo Rualdo Menegat, é o aquecimento global, transformado pela imprensa em mais um espetáculo.“Isso mostra como estamos cegos para a natureza”, lamenta. ”O mundo urbano que construímos, está além da escala humana”, acredita o geólogo.

Para explicar o papel do homem no meio ambiente, Menegat trouxe duas palavras da língua italiana: ‘Voracino e Velocino’; a primeira ele associou ao consumismo voraz e a segunda à velocidade alucinada empreendida ao consumo. “Esses dois monstros tudo querem e numa velocidade excessiva”, brincou o palestrante.

Segundo o pesquisador, existe hoje um problema muito grande que é a transferência do custo ambiental, onde os municípios terceirizam para outros o seu lixo e, também, a sua responsabilidade com o meio ambiente. “Domesticar a urbesfera - a cultura do hábito urbano - é a grande questão para o futuro humano, um futuro humanista”, defende o professor.

O palestrante também falou sobre o recente desastre ambiental causado pelo petróleo no Golfo do México. “O evento do golfo o México é o maior desastre natural dessa década, e ninguém fala sobre isso”, critica. Para ele, nunca houve uma censura tão ferrenha, e relembrou que o silêncio da imprensa "só se compara à censura dos experimentos nucleares durante a guerra fria”.

Após a palestra, o docente da UFRGS respondeu algumas perguntas dos participantes, que foram desde a questão da desapropriação da vila do Chocolatão até a melhor forma de lidarmos com aqueles que não acreditam que o aquecimento global é uma realidade.

No final, Menegat deixou claro aos participantes: cuidar do meio ambiente é cuidar das pessoas.

domingo, 5 de setembro de 2010

Tecnourbesfera: a antinatureza

por Rodrigo Avila Colla, participante do curso de Jornalismo Ambiental NEJ-RS

Em palestra conferida no curso de Jornalismo Ambiental, o geólogo Rualdo Menegat definiu tecnourbesfera como sendo o ambiente forjado pelo homem a partir do processo de urbanização. Já não temos atmosfera sobre a cidade nem litosfera sob ela, temos uma atmourbesfera e uma litourbesfera. O quê de vida ainda resiste nesse meio que inventamos pela técnica vem a ser a biourbesfera.
Nesse sentido, a tecnourbesfera propicia um enxadrezamento (o traçado de tabuleiro dos quarteirões das cidades vistas de cima) antinatural dos seres humanos. Antinatural porque na natureza encontramos outro tipo de formas (espiraladas, fasciculadas, radiais, etc.). Esse enxadrezamento é só mais um indício de que o habitat que criamos para nós exclui o meio ambiente, o relega à periferia; é um sinal nítido de que nos distanciamos e nos tornamos, como a urbe, contrários a lógica do ecossistema, ou, dizendo de outra forma, de que estamos inclinados a entender a natureza como algo a ser dominado, restrito aos nossos jardins e quintais “tabuleiromorfizados”.
Menegat defende que, para biologizarmos o empedernido ambiente urbano, haveria de ter uma “revolução urbícola” que, em outras palavras, trouxesse o campo para dentro da cidade propiciando, assim, o plantio de diversas culturas no âmbito urbano. Ele interpela ainda: “Por que não pode haver aviários na cidade, por exemplo?”. Afinal, tanto se fala na importância da manutenção da biodiversidade e no gasto de energia que empreendemos para transportar alimentos de regiões remotas em relação aos centros urbanos. E mais: “Que biodiversidade há nas grandes cidades? Quantos milhares de litros de petróleo são gastos (e esse gasto implica poluição) na locomoção dos alimentos que colhemos das prateleiras dos supermercados?”
Não são questões que devamos responder com dados estatísticos, mas rechaçar com atitudes fundadoras de um processo urbícola que, paralelamente, será um processo de humanização da cidade.

Agressão ao patrimônio natural: loteamentos destroem APP’s em Passo Fundo


Antes do encaminhamento ao MPE, ambientalistas vão ao local das denúncias fazer o levantamento das infrações legais, como aterramento de banhados e canalização de nascentes

por Verônica Daniela Conceição, participante Curso de Jornalismo Ambiental NEJ-RS

As consequências causadas pelo desrespeito ao meio ambiente prejudicam a natureza e o próprio ser humano, mas falta muito para as pessoas conviverem com responsabilidade e respeito ao próximo e demais seres vivos.
Segundo Hernán Sorhuet, meio ambiente é o conjunto de sistemas naturais e sociais habitados pelas pessoas e os demais seres vivos existentes no planeta, autor citado, colunista do jornal uruguaio El Pais que palestrou sobre “Desafios da cobertura jornalística dos temas ambientais”, e afirma que a informação é um bem social. “Embora a finalidade do jornalismo ambiental seja informar, não é um simples intermediário, senão um participante ativo da construção da sociedade sustentável que confrontará fontes hierarquizará informação e questionará dados, posturas e decisões.”
O curso de Jornalismo Ambiental promovido pelo Núcleo dos Ecojornalistas, NEJ-RS, aconteceu em Porto Alegre e contou também com o professor Rualdo Menegat da UFRGS que questionou sobre “Cegueira e civilização, onde está a natureza?”. Usando imagens fortes de desastres ambientais, mostrou um panorama das cidades, a relação homem/natureza e a busca de uma cultura urbana sustentável.
No norte do Rio Grande do Sul, a bióloga Adriane Deon, militante do Grupo Ecológico Sentinela dos Pampas, GESP, conta que é comum em Passo Fundo a canalização de córregos devido à transformação dos mesmos em canal de esgoto e lixão, bem como o despejo de dejetos e resíduos em banhados e áreas de nascentes. Empresas imobiliárias ou pessoas físicas aterram esses ecossistemas para transformá-los em loteamentos urbanos, com ou sem licença, em desrespeito às Áreas de Preservação Permanente, as APP’s. Estas ocupações são causa de problemas de assoreamento dos rios e impermeabilização e erosão do solo que contribuem para eventos extremos como enchentes e alagamentos.

APP’s em área urbana ou área urbana em APP’s?
A especulação imobiliária associada à falta ou ineficiência de políticas públicas de gestão da expansão urbana e a falta de fiscalização empurram as camadas mais pobres da sociedade para áreas irregulares e de ocupação ilegal. Ocorre, dessa forma, a expansão de favelas e loteamentos irregulares, onde, além da precariedade da infra-estrutura (rede de água e esgoto, coleta de lixo, iluminação pública, calçamento de ruas, praças, etc) e serviços públicos (postos de saúde, escolas, etc), grande parcela da população convive com graves problemas socioambientais. Em especial, como quando da ocupação de APP’s, que ocorre ao longo de rios, em áreas úmidas como banhados, próximo a nascentes e córregos, próximo a barragens de captação de água, em terrenos com grande declividade e topos de morros, entre outros.
Conforme a bióloga ambientalista, o GESP recebe muitas denúncias de agressões em áreas de preservação permanente as quais, após realizar uma vistoria e coleta de dados, encaminha as informações ao Ministério Público Estadual, MPE. Dentre as denúncias, está um caso antigo, relativo a dano ambiental que vem ocorrendo na área do Bosque Lucas Araújo. Nesta área, onde residem famílias de média a alta renda existe áreas úmidas e nascentes que formam olhos-d’água que deságuam no Arroio São Roque tributário da Bacia Hidrográfica do Rio Jacuí e que também vêm sendo agredidas com a deposição de lixo. Os fatos envolvem agressão em área de preservação permanente, APP, neste bairro cujo nome revela ser a área um fragmento representativo de Mata Atlântica existente na cidade de Passo Fundo e que merece especial atenção das autoridades e órgãos fiscalizadores.
O GESP já encaminhou ao MPE denúncias também de invasão de APP’s por famílias de baixa renda, com o aval do poder público. Um dos casos é o da Vila Bom Jesus, cuja renda provém da coleta de material reciclável. A área foi um ecossistema de banhado consistente, com vegetação característica, que tinha a presença de espécies da fauna local e recursos hídricos com pequenas nascentes e arroios. Foi feito arruamento com deposição de asfalto e sistema de drenagem das águas superficiais ao lado de um ecossistema úmido, sendo o local considerado pela legislação vigente, área de preservação permanente. Para ocorrer à intervenção em uma APP, explica Adriana, é necessário ser feito um parecer do órgão Estadual responsável, desde que se tenha uma utilidade pública para este. No local não se encontra nenhuma moradia a ser beneficiada pela rua, tanto que esta não tem saída.
Contudo, um dos casos que mais chamou a atenção dos ambientalistas em Passo Fundo, foi a denúncia que o GESP atendeu sobre as atividades que estão acontecendo na área onde está projetado o Conjunto Habitacional Par Planaltina. A bióloga Adriana explica que a área em questão encontra-se junto a um fragmento de Floresta Ombrófila Mista pertencente ao Bioma Mata Atlântica, incluindo vários exemplares de Araucária (Araucaria angustifólia), associado a uma área de campo nativo sulino, possuindo vegetação e fauna característica para ambos os ecossistemas. Sendo assim, uma área nobre em recursos hídricos contando com nascentes e um córrego que, inclusive, já tem uma parte canalizada devido às residências existentes no local. “Este córrego é tributário do Arroio São Roque pertencente à Bacia do Alto Jacuí e as obras do empreendimento habitacional provocaram impacto e degradação em APP, como a supressão da vegetação e deposição de resíduos da terraplanagem e da vegetação, num raio que varia de 15m a 28m de extensão, abrangendo a demarcação das estacas até a borda do fragmento; a demarcação do talude invade a APP em aproximadamente 7 metros, estando apenas a 23 metros do córrego; a demarcação do talude avança 16 metros adentro do que a Legislação vigente permite quanto a nascentes e olhos-d’água (que é de 50 metros), estando este a apenas 34 metros. E ainda, agravando a situação, existe depósito de resíduos da terraplanagem a apenas 8 metros do olho-d’água,” descreveu a dramática situação no Conjunto Habitacional.

Mais informações: http://gesppf.blogspot.com/

FOTO: Arroio Pinheirinho na Vila Lucas Araújo/Arquivo GESP-2009

domingo, 29 de agosto de 2010

Em breve NEJ-RS divulga produção dos participantes em curso de jornalismo ambiental

Em breve, o Núcleo dos Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ-RS) vai divulgar neste espaço os textos produzidos pelos participantes do curso de jornalismo ambiental que aconteceu nos dias 20 e 21 de agosto sobre “Os desafios da cobertura ambiental”. A atividade integrou a programação especial alusiva aos 20 anos de atuação ambiental do NEJ-RS.

O curso trouxe a Porto Alegre o jornalista Hernán Sorhuet, colunista do jornal uruguaio El País, que cobre meio ambiente há vários anos. E também: os professores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Rualdo Menegat (Doutor em Ciências) e Fernando Antunes (Mestre em Comunicação Social).

O evento teve o apoio da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS, onde aconteceu a programação. O patrocínio foi da Petrobras e da loja Grão Natural.

A produção de textos (reportagem, artigo, etc) pelos participantes do curso foi uma oportunidade de conferirem na prática como é fazer jornalismo ambiental. Foi dado um prazo de sete dias para o desenvolvimento do trabalho cuja orientação foi dos integrantes do NEJ-RS: Lisete Ghiggi (Professora do IPA), Ilza Girardi (Professora da UFRGS), Eliege Fante (Mestranda PPGCOM/UFRGS) e Eloísa Beling Loose (Mestre em Comunicação e Informação PPGCOM/UFRGS).

segunda-feira, 4 de maio de 2009

NEJ-RS realiza curso inédito sobre Jornalismo Científico e Ambiental

Uma oportunidade para debater e aprofundar conhecimentos sobre o trabalho com temas como meio ambiente e ciência. O Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ-RS) promove, no dia 16 de maio, um curso sobre Jornalismo Científico e Ambiental, voltado a jornalistas e estudantes de jornalismo. Os palestrantes convidados, o jornalista Marcelo Leite e o professor Wilson da Costa Bueno, tratarão de aspectos teóricos e práticos da área, o trabalho com informações especializadas e a relação com fontes, além de falar sobre suas experiências profissionais, reconhecidas nacional e internacionalmente.
O curso será no auditório da Associação Riograndense de Imprensa – ARI (Av. Borges Medeiros, 915 - 8º andar – centro / Porto Alegre), das 9h às 12h e das 14h às 17h. O valor da inscrição é de R$ 100,00 para jornalistas e demais profissionais interessados e R$ 70,00 para estudantes (graduação ou pós-graduação) e sócios do NEJ-RS. As vagas são limitadas em 80 participantes e os mesmos receberão certificado da atividade.As inscrições serão aceitas por e-mail (ver detalhes a seguir).

PARA INSCRIÇÃO
Envie para ecoagencia@ecoagencia.com.br:
Nome Completo:
E-mail:
Fone: Celular:
Endereço completo (com CEP):

Profissão/Atividade:
Categoria da Inscrição:
( ) Associado NEJ - R$ 70,00
( ) Estudante - R$ 70,00 - ( )Graduação ( ) Pós-graduação
Instituição:
( ) Profissionais /Não-associados R$ 100,00
Empresa/Instituição:

Anexar o comprovante de transferência/depósito bancário para:Núcleo de Ecojornalistas do RS - Banrisul: Agência – 0041 Conta – 06.008993.0-4

A confirmação acontecerá em até 24h depois do envio para ecoagencia@ecoagencia.com.br.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

É hoje o lançamento do novo portal multimídia da EcoAgência

Mantido pelo Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul, o novo portal multimídia da EcoAgência será lançado hoje (26/11) às 19h30, na Palavraria, no bairro Bom Fim, em Porto Alegre. Além do portal da EcoAgência, o Nej/RS faz o relançamento do livro Jornalismo Ambiental: Desafios e Reflexões, organizado pelos professores da Ufrgs, Ilza Maria Toutinho Girardi e Reges Schwaab, membros da Diretoria do Nej.

Com criação, planejamento e produção da Ozone Comunicação e Design, também de Porto Alegre, o novo portal objetiva divulgar propostas, eventos e projetos ambientais, alinhando as notícias às diversas ferramentas multimídia, oferecendo ainda artigos, documentos para pesquisa, vídeos, fotografias e áudios.

A EcoAgência (www.ecoagencia.com.br) é um dos projetos mantidos pelo Nej/RS, ao lado do programa de rádio Sintonia da Terra, veiculado através da Rádio da Ufrgs, e do Terça Ecológica, um espaço de debate que aproxima profissionais e estudantes no enfoque ecológico.

Já o livro Jornalismo Ambiental: Desafios e Reflexões, lançado na última Feira do Livro em Porto Alegre, reúne 32 textos que abordam sobre jornalismo ambiental. Os trabalhos foram apresentados durante o II Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, realizado em Porto Alegre em novembro do ano passado.

Mais informações pelo http://www.ecoagencia.com.br/ .

Foto: reprodução da capa do livro

Por Adriane Bertoglio Rodrigues, especial para EcoAgência de Notícias Ambientais. Reprodução autorizada, citando-se a fonte.

Abertas inscrições para passeio ao Sítio Apiquários de produtores da Feira Ecológica

Passar um domingo em um local repleto de verde, com mata nativa e ar puro, saboreando uma alimentação natural e orgânica é uma oportunidade rara que pode estar ao seu alcance.

No domingo, dia 7 de dezembro, Roque e Lorita Rossi recebem um pequeno grupo em seu sítio no interior de Gramado. O casal acolhe os convidados com lanche da manhã, seguido por uma oficina de secagem de chás. Após o almoço, com cardápio vegano e orgânico, acontece uma oficina sobre o valor terapêutico de alguns chás e uma trilha pela mata nativa. Um lanche no final da tarde completa as atividades do dia.

A saída da excursão está prevista para as 7h30min, na rua José Bonifácio, próximo à igreja Santa Teresinha, e o retorno deve ocorrer por volta das 20h.

Todo o pacote soma um investimento de R$100,00, que deve ser pago no momento da inscrição. As pessoas podem inscrever-se neste sábado, dia 29 de novembro, na banca do Sítio Apiquários da FAE, com a agricultora Lorita, ou até o dia 2 de dezembro, com Cláudia Dreier, pelo telefone 9819 9887, e posterior depósito bancário.

As vagas são limitadas a 20 pessoas.

Da Assessoria de Imprensa da Feira de Agricultores Ecológicos.

CCJ aprova redação final do Pontal do Estaleiro

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Municipal de Porto Alegre aprovou nesta terça-feira (25/11) a redação final do projeto do Pontal do Estaleiro, aprovado pelo Plenário no último dia 12.

Agora, a matéria segue para a Diretoria Administrativa, que a encaminhará ao Executivo.

Após receber o projeto, o prefeito tem prazo de 15 dias para sancionar ou vetar a proposta.

Se sancioná-la, a lei entra em vigor após publicação no Diário Oficial de Porto Alegre.

Se o prefeito vetar a matéria, o projeto volta ao Legislativo, que decidirá se mantém ou derruba o veto.

Na hipótese de os vereadores concordarem com o veto, o projeto será arquivado. No entanto, se a Câmara decidir derrubar o veto, a proposta vira lei após ser promulgada pelo presidente da Casa.


Por Marco Aurélio Marocco, da CMPA.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Celofane: o transparente que não é plástico

Propor alternativas que substituam o plástico é a nova ação da Feira dos Agricultores Ecologistas, FAE, que reforça a campanha Menos plástico mais saúde. Neste sábado, 29 de novembro, o destaque cabe ao papel celofane.

"Mas o celofane não é plástico?" questionou a bióloga Karin Potter ao ser informada sobre o evento. Como ela, muitas pessoas são levadas a confundir o celofane com plástico. Em várias papelarias de Porto Alegre quando se solicita o papel celofane o que é apresentado ao consumidor é um plástico que imita o celofane como se este fosse de fato o papel transparente.

Luiz Fernando Heck, representante da fábrica brasileira que produz esse material, demonstra uma maneira fácil de identificar sua legitimidade: "na presença de fogo, o celofane queima como qualquer papel comum, já os plásticos ficam enrugados e retorcidos".

A Banca do Papel Celofane vai estar na FAE, ao lado do caldo-de-cana, para mostrar as vantagens desta embalagem em vários produtos. As bancas da feira que já utilizam o celofane, como a dos Nutracêuticos de Nelson Dihel, estarão sinalizadas por cartazes coloridos.

Desde novembro de 2006, a Feira dos Agricultores Ecologistas trabalha com ações pontuais para diminuir o uso do plástico. A FAE acontece todos os sábados na primeira quadra da rua José Bonifácio, em Porto Alegre, das 7 às 13h.


Da Assessoria de Comunicação da Feira de Agricultores Ecologistas.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Câmara de Vereadores deve enviar projeto Pontal do Estaleiro ao prefeito de Porto Alegre até quarta-feira


O veto pelo prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, à modificação da Lei 470/02, liberando a ocupação residencial na Orla do Guaíba, foi defendida no último domingo (23/11) no Brique da Redenção. Integrantes de movimentos contrários ao projeto aprovado no último dia 12 na Câmara de Vereadores, reforçam as manifestações em diversos locais da cidade, distribuindo panfletos e colhendo assinaturas.

Isso porque, até a próxima quarta-feira (26/11), a Câmara deve enviar o chamado projeto Pontal do Estaleiro ao prefeito Fogaça, que terá 15 dias para vetar ou sancionar. “Esperamos que o prefeito seja coerente com os interesses da cidade e vete este projeto, que privativa uma área de interesse cultural, destinada ao turismo, esporte, gastronomia e lazer”, defende o secretário-geral do Fórum Municipal das Entidades, Paulo Guarnieri, uma das 50 entidades que integra o Movimento Defenda a Orla.

A Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) também integra o Movimento e, em agosto passado, lançou o abaixo-assinado Em Defesa da Orla, em comemoração aos 20 anos da subida da chaminé da Usina do Gasômetro. “Na época, defendíamos o mesmo objetivo, que hoje voltou a ser pauta: a preservação das margens do Guaíba, ameaçadas pela ocupação privada de empreendedores que buscam o lucro imediato”, lembra a presidente da Agapan, Edi Fonseca, ao lamentar que “a história se repete”. Com quase oito mil assinaturas, o abaixo-assinado eletrônico pode ser acessado através do http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/1571 .

Apoios ao Movimento

O Movimento Defenda a Orla reúne mais de 50 entidades, entre entidades de classe, de bairros, ambientalistas, universitários, artistas e intelectuais. Entre as personalidades que têm se posicionado contrários ao projeto estão Eva Sopher, Miguel Reali Jr, Rualdo Menegat, Luis Fernando Veríssimo, Zorávia Bettiol, Santiago, Fedrizi, Celso Furtado e inúmeras pessoas ligadas à cultura do nosso Estado.

Até mesmo os participantes da Feira dos Agricultores Ecologistas, que é realizada todos os sábados de manhã, no bairro Bom-Fim, se manifestaram contrários ao projeto e dizem acreditar no veto do prefeito.

Durante as três próximas feiras ecológicas, entre 9h30 às 12h30, haverá mobilização contra o aquecimento global e também coleta de assinaturas do abaixo-assinado Em Defesa da Orla. A atividade é realizada pela Agapan (Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural), Associação dos Agricultores Ecológicos Solidários do RS, Amigos da Terra e ONG Ingá. A Feira dos Agricultores Ecologistas funciona todos os sábados, das 7h às 13h, na rua José Bonifácio.

Prece do poeta Carlos Urbim

Na semana passada, a vereadora Margarete Moraes (PT) repassou aos integrantes do Movimento Defenda a Orla uma prece do nosso escritor e poeta Carlos Urbim, “nos unindo a ele nesta luta pela preservação do Guaíba e por uma Porto Alegre que possa desfrutar de sua orla de forma democrática”.

Oração numa hora ruim
- Carlos Urbim

Nossa Senhora dos Navegantes
madrinha do rio-lago Guaíba
tire de mim o ódio que sinto
pelos corações de concreto

Nossa Senhora dos Navegantes
que ganha de novo procissão
pelas águas tão violentadas
afaste de mim a imensa raiva
contra os gigolôs do cimento

Nossa Senhora justiceira
protetora dos pescadores
que precisam da laguna
cada vez mais poluída
repreenda por mim
os que sujam e cerceiam
vociferam argamassa
e dão a alma ao diabo

Rogue praga de padroeira
(sempre tão certeira)
puxe as orelhas vendidas
dê palmadas nas bundas
condene agora mesmo
os piratas e os pecadores

Virgem santa querida
não nos deixe perdedores

Foto: Manifestação de apoio ao veto do prefeito José Fogaça ao projeto Pontal do Estaleiro (Cesar Cardia)

Por Adriane Bertoglio Rodrigues, especial para Ecoagência de Notícias. Reprodução autorizada, citando-se a fonte.

Frustração pelo veto à proteção legal de geleiras argentinas


A decisão do governo de Cristina Fernández de vetar uma lei de proteção das reservas de água doce das geleiras da Argentina causa profunda preocupação em cientistas e ambientalistas que participaram da elaboração do projeto. “Trabalhamos muito com os legisladores para que essa lei fosse promulgada”, disse pesaroso ao Terramérica o doutor em Geociências Ricardo Villalba, diretor do estatal Instituto Argentino de Nivologia, Glaciologia e Ciências Ambientais (Ianigla).

“É difícil entender o que ocorreu. A comunidade científica não quer deter o desenvolvimento, mas preservar fontes de água doce em uma região onde as províncias dependem dessas reservas para seu consumo e irrigação”, acrescentou Villalba, membro do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC).

O projeto de Lei de Orçamentos Mínimos para a Proteção das Geleiras e do Ambiente Periglacial, aprovado em 22 de outubro com folgada maioria nas duas câmaras legislativas, estabelece normas básicas para “preservá-los como reservas estratégicas de recursos hídricos e fornecedores de água”. Também proíbe atividades que afetem as funções de fornecedores de água das geleiras e do ambiente periglacial, definido no projeto como “área de alta montanha com solos congelados que atua como regulador do recurso hídrico”. O artigo segundo do texto afirma que uma geleira é uma “massa de gelo perene, estável ou que flui lentamente, com ou sem água intersticial, formada pela recristalização da neve, localizada em diferentes ecossistemas, qualquer que seja sua forma, dimensão e estado de conservação”. Entre as atividades proibidas nesses lugares consta a exploração e prospecção de minérios ou petróleo, construção de obras de arquitetura ou infra-estrutura e a liberação de substâncias poluentes, produtos químicos ou resíduos de qualquer tipo.

Assessorada pela Secretaria de Mineração, Fernández vetou toda a lei no dia 11 desse mês, alegando que “a proibição é excessiva” e outorga “preeminência aos aspectos ambientais acima das atividades que poderiam ser desenvolvidas com perfeito cuidado do meio ambiente”. No fundamento do veto, a presidente admite que os governadores das províncias afetadas “expressaram sua preocupação” pela lei porque “repercutiria negativamente no desenvolvimento econômico e nos investimentos que nelas são feitos”.

A lei teria afetado projetos como o de Pascua Lama, que a corporação mineira canadense Barrick Gold pretende iniciar na Cordilheira dos Andes, em uma área limítrofe entre a província argentina de San Juan e a região chilena de Atacama, para extrair ouro, prata e cobre por cerca de 20 anos. O investimento da Barrick para essa mina é de US$ 2,4 bilhões, segundo as últimas estimativas, e permitirá extrair anualmente 615 mil onças de ouro e 30 milhões onças de prata, mais cinco mil toneladas de concentrado de cobre por meio do método de lixiviação com cianureto para separar o metal da rocha.

Embora o projeto da Barrick prejudique geleiras localizadas do lado chileno e já tenha sido aprovado pelos dois países, desperta forte resistência dos moradores dos dois lados da fronteira, que fizeram campanha por anos contra a exploração mineral e a favor da preservação das reservas de água doce. Algo semelhante ocorre com moradores da província de La Rioja, contrários aos planos de mineração da Barrick na cadeia montanhosa da Serra de Famatina, onde nascem vários cursos de água. Entretanto, os projetos, apesar dos entraves, avançam lentamente.

Diante desse cenário, a sanção da lei seria comemorada como uma vitória entre os que trabalham na preservação da água doce. Mas a festa durou menos de um mês, até chegar o veto total. “A Cordilheira é gigante e há lugar para todos”, alegou Villalba. “A lei não dizia que não podia haver nenhum projeto. Indicava que se devia limitar áreas. Para isso se ordenava a realização de um inventário de geleiras e periglaciais para seu controle e proteção que deveria estar a cargo da Ianigla. O que não deveria ser tocado eram as áreas fornecedoras de água”.

O vice-presidente da Associação Amigos dos Parques Nacionais da Argentina, Norberto Ovando, disse ao Terramérica que mesmo “com a mineração realizada em zona periglacial, suas explosões provocam a liberação e dispersão de substâncias que, além de contaminantes, aquecem muito mais rápido a superfície das geleiras”. As “atividades que a lei vetada proibia iriam acelerar esse derretimento”, disse Ovando, membro da Rede Mundial de Áreas Protegidas.

Segundo a Ianiglia, na Patagônia (sul do país) as geleiras retrocederam entre 10% e 14% nos últimos 20 anos, por causa do aumento da temperatura global. “Para nós, a água é mais valiosa do que o ouro e não tem substituto”, enfatizou Ovando. Embora executivos da Barrick tivesem que voltar atrás com seu plano inicial de trasladar três geleiras do lado chileno e se comprometer a não fazê-lo, “os cientistas não acreditam muito na companhia”, disse Ovando. A lei era uma ferramenta para que esse compromisso fosse cumprido.

O biólogo Raúl Montenegro, da Fundação para a Defesa do Meio Ambiente, disse ao Terramérica que foi “um erro” vetar uma lei “sensata e inteligente” que também protegia as altas bacias hídricas em geral e as economias semi-áridas que existem graças à água das geleiras. Na Argentina, as ocidentais províncias de San Juan, Mendoza e La Rioja dependem do fornecimento dessas fontes para consumo humano, agricultura e pecuária.

Foto: Photo StockLegenda: Geleira Perito Moreno, no sul da Argentina.

Por Marcela Valente, correspondente da IPS.LINKS

+Projeto de Lei de Orçamentos Mínimos para a Proteção das Geleiras e do Ambiente Periglacial, em PDF http://www.ambiente.gov.ar/archivos/web/AdCC/File/08leydepresupuestosminimos_glaciares.pdf


+Maior reserva de água doce desprotegida no Chile http://www.tierramerica.info/nota.php?lang=port&idnews=251

+Mineradora canadense vai com tudo por geleirahttp://www.tierramerica.info/nota.php?lang=esp&idnews=37&olt=6

+Instituto Argentino de Nivologia, Glaciologia e Ciências Ambientais http://www.mendoza-conicet.gov.ar/

+Fundação para a Defesa do Ambiente http://www.funam.org.ar/

* Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.

Fazendeiro de Anapu diz que exploração sustentável da floresta é possível


Desenvolver atividades econômicas e preservar a Floresta Amazônica é uma realidade possível, na avaliação do fazendeiro Antonio Napoli Velho. Ele vive há 27 anos na Amazônia, no município de Anapu, sudeste do Pará.

Nascido no sul do país, Gaúcho, como é conhecido na região, vivenciou momentos importantes da história da Amazônia, desde o estímulo à sua ocupação e desenvolvimento, promovido pelos governos militares, ao atual estágio de preocupação com a recuperação da mata.

Hoje, ele destaca a importância da conservação do meio ambiente e busca trabalhar de forma sustentável. "Os projetos de manejo são economicamente viáveis sim, porque [a floresta] é uma riqueza que temos aqui e está pronta para ser polida", disse o fazendeiro em entrevista à Agência Brasil. "Mas tem que fazer de forma não gananciosa, dentro dos preceitos ecologicamente corretos", acrescentou.

Ao lado de dois irmãos, Gaúcho tem uma fazenda de 6 mil hectares. Segundo ele, 20% da área foi transformada em pasto, onde cria gado. Outros 300 alqueires, cerca de 1.500 hectares, foram utilizados para desenvolver um projeto de manejo sustentável.

"[A extração por meio do manejo] é uma atividade bem remunerada, muito boa", disse. Ele conta que em dois anos todas as árvores que poderiam ser exploradas foram retiradas. Agora, explica, as remanescentes ficarão intocadas por 25 anos para recompor a floresta. "A rentabilidade foi boa e agora podemos desenvolver projetos [de manejo] menores, mais modernos".

Gaúcho explicou que precisou apressar o início da exploração sustentável porque sua propriedade estava sendo ameaçada de invasão. "Quem tem a madeira é alvo. Os invasores querem pegá-la para vender aos madeireiros ilegalmente".

Segundo ele, as próprias madeireiras incentivam agricultores e assentados a invadir fazendas. Não com o intuito de estimular a reforma agrária, mas para comprar a madeira das áreas ocupadas de forma ilegal e a preços muito mais baixos do que os de mercado. "O problema é que ocorre muita propina", criticou.

Para se ter uma idéia, afirmou Antonio Velho, os madeireiros compram um alqueire de mata por R$ 300. "Eles me fizeram a proposta e não aceitei. Um metro cúbico de Ipê, por exemplo, vale R$ 400. Como não cedi, eles incitam o povo a invadir", acrescentou.

Na avaliação do fazendeiro, os Programas de Desenvolvimento Sustentáveis (PDS`s), idealizados pela missionária norte-americana Dorothy Stang são exemplo de utilização "inteligente" da floresta. "O projeto dela é no sentido de retirar uma pequena área todo ano. Esse é o melhor sistema porque não aumenta a oferta de madeira. É uma oferta permanente e com regularidade. Isso que é interessante para a região", disse.

Para Gaúcho, o cálculo é simples: "Legalmente, podem ser retirados até 60 metros cúbicos de madeira em três hectares. Seiscentos metros cúbicos a R$ 400 o metro cúbico, são R$ 24 mil ou R$ 2 mil por mês. Não existe salário melhor na região".

Ele acrescenta que os agricultores podem trabalhar de forma conjunta. Funcionaria como um esquema de parceria em que o manejo seria desenvolvido em uma área maior e a rentabilidade aumentaria. Os agricultores podem tirar a madeira em um mês e ficar os outros 11 com o dinheiro no bolso e a floresta intacta".

Para essa alternativa se tornar realidade, o fazendeiro acredita que deve haver uma mudança cultural no modo de obter renda por meio da floresta. "Há um paradigma que tem que ser quebrado, de se querer fazer tudo rápido, pegar a madeira, vender tudo de uma vez".

Em sua opinião, a conscientização por meio da implementação de escolas rurais familiares poderia resolver o problema. "Com isso, os jovens seriam estimulados a ficar na terra em vez de ir para a cidade onde, provavelmente, vão inchar as favelas".

Segundo Gaúcho, entre Anapu e Pacajá, uma área superior a 12 mil quilômetros quadrados, só há uma escola rural. "O colono é o melhor ecologista, mas ele não tem conhecimento. A cultura que ele tem é de queimar, cortar, vender, passar para o outro lado. Se ele for instruído, com certeza vai ter consciência da importância da preservação".

Foto: Fazendeiro de Anapu diz que exploração sustentável da floresta é possível (Antônio Cruz, ABr)

Por Ivan Richard Repórter da Agência Brasil.

sábado, 22 de novembro de 2008

Nej/RS apresenta novo portal EcoAgência e lança livro no próximo dia 26

O Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (Nej/RS) encerrará o ano lançando na próxima quarta-feira, 26, às 19h30, o novo portal da EcoAgência e o livro Jornalismo Ambiental: Desafios e Reflexões. O evento será na Palavraria (rua Vasco da Gama, 165, Bom Fim), em Porto Alegre.

A fim de ampliar e qualificar sua cobertura, a EcoAgência investiu na reformulação da identidade visual do seu novo portal de notícias. O projeto demandou seis meses de trabalho e contou com a criação, planejamento e produção da Ozone Comunicação e Design. O objetivo é também alinhar a agência a ferramentas multimídia, utilizando tecnologia de ponta, mesclada à usabilidade total para os usuários: notícias, artigos, documentos para pesquisa, vídeos, fotografias e áudios.

A EcoAgência (www.ecoagencia.com.br) é mantida pelo Nej desde sua criação, em 2003. Iniciou suas atividades com o trabalho voluntário de jornalistas de várias partes do país. Foi um dos primeiros sites de jornalismo ambiental do Brasil.

O livro, organizado pelos professores da Ufrgs, Ilza Maria Toutinho Girardi e Reges Schwaab, membros da diretoria do Nej, reúne 32 textos que discutem peculiaridades, problemas e possibilidades da cobertura sobre meio ambiente. Os trabalhos foram apresentados durante o II Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, realizado em Porto Alegre e organizado pelo Nej gaúcho.

Sobre o Nej/RS

O Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul, com 18 anos de existência, foi a primeira entidade do Brasil criada como o objetivo de ampliar e qualificar a informação ambiental, trabalhando para a capacitação dos jornalistas.

Atualmente é uma referência na América Latina, pois através das ações do Nej foram criadas a Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental e a Rede de Comunicação Ambiental da América Latina e Caribe, além de Núcleos de Ecojornalistas em outros Estados.


Informações:
Silvia FM, https://webmail.via-rs.net/webmail/Direto/CorreioBusiness?direto_tarefa=novaMensagem&email=silviamarcuzzo@gmail.com ou pelo 51-9341-6213
Adriane Bertoglio Rodrigues, Adriane@ecoagencia.com.br ou pelo 51-9813-1785