quinta-feira, 16 de setembro de 2010

As cidades têm solução?

Por Danuza Mattiazzi - jornalista participante do Curso de Jornalismo Ambiental do NEJ-RS

Estamos distantes da natureza e cegos, confiamos excessivamente na ciência e acreditamos que a tecnologia pode resolver todos os problemas que as cidades enfrentam hoje. Esse é o diagnóstico do professor Rualdo Menegat, doutor em Ecologia de Paisagem, sobre a sociedade atual. Ele propõe algumas mudanças que podem soar estranhas, como a instalação de chiqueiros nas cidades e a manutenção dos carroceiros. Ele defende a integração com o ambiente natural e a manutenção das diferentes culturas, no caminho inverso da homogeneização e urbanização em um “xadrez perfeito”.

A temática ambiental ficou popular recentemente no Hemisfério Sul. Na década de 90, países do Hemisfério Norte já sofriam com catástrofes ambientais agravadas pelo aquecimento global já anunciado pelos cientistas. Já no Hemisfério Sul, Menegat diz que a atenção às mudanças climáticas começou no início do século 21, especialmente com o ciclone Catarina, que atingiu os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em março de 2004. O fenômeno vitimou e feriu dezenas de habitantes, destruiu casas e causou prejuízos à agricultura.

– “Foi o mais importante evento climático da década, pois de fato mostrou algo em ação no clima da Terra para o Hemisfério Sul” – esclarece o doutor.

O aquecimento global contribui com o agravamento das catástrofes ambientais. Conforme explica Menegat, o aumento da concentração de CO2 na atmosfera, devido à poluição, combinado com a diminuição da umidade do ar, faz com que as precipitações sejam mais concentradas e intensas em determinadas áreas e menos freqüentes em outras, aumentando nestas a ocorrência de incêndios.

Ao citar eventos ambientais do último ano – como fortes nevascas na Inglaterra, deslizamentos de terra em Santa Catarina e inundações pelo Brasil – o pesquisador defende que a população esquece muito rápido dos desastres. “Os humanos não estão sabendo ter a leitura do mundo em que vivem. Não conseguem mais interpretar a paisagem”, diz ele, ao mostrar uma foto em que mãe e filho caminham indiferentes aos destroços de uma cidade destruída por enchentes.

Outra imagem que ilustra a falta de compreensão da sociedade sobre os desastres ambientais é a foto de dezenas de pessoas sendo alcançadas pelo tsunami que atingiu a ilha de Sumatra, na Indonésia, vitimando 230 mil pessoas em dezembro de 2004. Segundo Menegat, muitas pessoas assistiram à invasão da onda gigante até o momento em que foram engolidas pela força da água. “Tiravam fotos, gravavam. Achavam que não seriam atingidas? As pessoas não têm consciência da força da natureza. O tsunami de Sumatra é o signo da cegueira da atual civilização perante a natureza”.

Natureza e cultura
Menegat discute a relação entre a natureza e a cultura dos povos, ou seja, de que forma a humanidade se insere no meio natural. Com a construção das cidades, foram criados grandes centros urbanos que limitam a visão de mundo de seus habitantes. “Quem mora aqui dentro [em referência a uma grande cidade], está enclausurado, encapsulado por esses centros urbanos. A cidade não oferece ao cidadão informações fundamentais para que ele olhe a paisagem e a leia”.

As metrópoles já evoluíram para mega-cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. E, para que consigamos viver sem o caos do ritmo acelerado e da poluição nesses espaços, o doutor diz que é necessário tornarmos as cidades mais sustentáveis e buscarmos o contato com o meio natural e o respeito aos limites que a natureza impõe.

Para exemplificar a idéia, Menegat cita o problema enfrentado pela cidade de Arequipa, no Peru. Com 850 mil habitantes, a cidade se expandiu até a saia de um vulcão. O prefeito pediu a ajuda de Menegat para solucionar o problema. “A ciência pode desenvolver uma enorme rolha e tapar o vulcão, que tal?”, brinca o cientista. A colocação irônica de Menegat ilustra a maneira com que os seres humanos confiam na ciência. Ocupam territórios com alto risco de acidentes ambientais sem se preocupar com os riscos e, assim, se prevenir. Mas, depois, querem que a tecnologia solucione a questão. “Nosso problema não é o vulcão, e sim, a cidade. É o peso urbano sobre nós, é a cidade que nos pesa, não a natureza”. Por isso, a resposta do cientista ao governante peruano foi a sugestão de reunir as comunidades, esclarecer sobre os riscos de se morar próximo a um vulcão que pode entrar em erupção a qualquer momento e desenvolver estratégias segundo a cultura local e consenso da população.

Presos no xadrez urbano
Um dos principais problemas das megalópoles, segundo Menegat, é a geometria urbana. A imposição do desenho de um “xadrez perfeito” para as cidades compromete a integração com o ambiente natural. O modelo predominante desde a era das colonizações pôs fim ao ideal de cidade ecológica – posto em prática na cidade Ur, da antiga Mesopotâmia. Ur foi construída segundo o curso do rio Eufrates, respeitando o caminho da água e tentando somente proteger os habitantes das enchentes.

Com o estabelecimento do modelo de tabuleiro, não se pensou mais na natureza. “Segundo o ‘xadrez perfeito’, o rio não pertence à geometria da cidade. Ele só atrapalha. Aí todo mundo larga o lixo ali, já que aquilo não pertence ao tabuleiro urbano perfeito. O mesmo acontece com algum morro que impede a linha reta das ruas. O que fazer? Destruir o morro. Nada pode atrapalhar a geometria urbana”, aponta Menegat.

Ele defende ações locais para inclusão de atitudes ecológicas e ampliação da visão de mundo das pessoas. A proposta é unir cientistas, estudantes, políticos e habitantes das comunidades para discutir soluções inteligentes e que respeitem a cultura de cada grupo.

Chiqueiros urbanos
Uma das alternativas para uma cidade sustentável é a criação de animais no meio urbano. Menegat defende que chiqueiros e aviários podem contribuir com o metabolismo das cidades – ao consumirem os restos de comida da população – e gerar renda a famílias que sofrem com o desemprego.

Outra proposta de Menegat é a manutenção das favelas. “Temos que criar condições de vida nesses locais e não removê-los”, defende ele, ao dizer que os moradores de áreas pobres construíram uma sociedade organizada segundo seus padrões culturais, só precisam de saneamento, segurança e boas escolas para que vivam com qualidade.

“Remover um grupo de catadores de materiais recicláveis, por exemplo, e colocá-los em apartamentos é um grande erro. Eles precisam de casas, um galpão onde possam guardar os materiais que recolhem e um estábulo para cuidar dos cavalos que puxam suas carroças”.

A retirada dos carroceiros das ruas de Porto Alegre – ação que deve ser concluída pela prefeitura até 2011 – é condenada pelo cientista. “Essas pessoas, excluídas do mercado de trabalho, criaram uma profissão por elas mesmas. E, agora, vamos tirar isso delas?”.

Uma das alternativas consiste em dar melhores condições de trabalho para esses profissionais, como carroças elétricas já em funcionamento em Curitiba, no Paraná.

Menegat defende que os catadores precisam de uma política pública que respeite o ritmo de trabalho que construíram, sem retirar deles o que têm de mais genuíno, uma profissão que criaram segundo a sua cultura e suas necessidades.

O ideal brasileiro de cidades melhores, segundo Menegat, tem que respeitar a cultura local. “Não somos a Europa e nunca seremos. Temos que lidar com os nossos problemas”.

O meio ambiente exige que a consciência seja convertida em ação

Por Leila Boscato Garcia - jornalista participante do Curso de Jornalismo Ambiental NEJ-RS

O ser humano pode ser caracterizado como cego, como inconsciente, como pessimista ou otimista demais, quando se fala da sua relação com o meio ambiente. Mas, independente do posicionamento adotado, o certo é que, os discursos que emanam das diversas áreas da sociedade convergem para necessidade de adotar uma nova postura menos destrutiva e mais altruísta.

Onde está a natureza? A pergunta colocada pelo geólogo Rualdo Menegat avalia a estrutura física, cultural e sistêmica da sociedade e caracteriza o ser humano como cego. Cego diante do mundo que o cerca, do modo como vive e por que vive, dos danos que causa a si, ao planeta e aos outros seres vivos, mas, principalmente, cego diante dos sinais que a natureza apresenta. Mas, será cegueira ou uma espécie de consciência inconsciente? A tentativa continuada de alterar o comportamento inadequado da sociedade, em relação à natureza, esbarra num modelo estrutural mantido por governos, corporações e pelas decisões dos indivíduos.

É comum entre as diversas áreas de conhecimento e setores da sociedade tentar encontrar modelos ou métodos param promover a conscientização. Trata-se do resultado da educação ambiental, cada vez mais constante devido aos eventos ambientais desastrosos que abalam diversas localidades do globo. Neste momento, as pessoas reconhecem atitudes inadequadas e passam a ações menos prejudiciais. A diferença entre a cegueira e a consciência inconsciente é que, no primeiro caso, as pessoas negam seu papel e responsabilidade, observam as ocorrências com distanciamento, são expectadores. “As pessoas só assistem aos eventos, não se propõem uma reflexão sobre o que está ocorrendo”, observa Menegat.

Já no segundo caso, as pessoas reconhecem que suas ações são danosas, mas não alteram seu comportamento, ou seja, é quando a consciência não leva à ação. A socióloga Maria Cristina França afirma que os comportamentos diferenciados resultam de vários fatores, entre os quais, as condições concretas de existência, como origem, estrutura de classe, e escolarização ou o acesso desigual às informações, que condicionam o empobrecimento ou enriquecimento do conteúdo de antigas convicções. “Trata-se, nas duas possibilidades, de um grau maior ou menor de coerência interna,entre padrões de ação e de representação elaborados simultaneamente pelos grupamentos sociais nas suas práticas cotidianas”, conclui França.

Menegat aponta a adoção da cidade hipodâmica, proveniente da Grécia Antiga e expandida mundo afora ao longo dos séculos, como princípio para o modelo social baseado na exploração e consumo dos recursos naturais sem controle. “A cidade cortou os vínculos com a natureza, ela não oferece ao cidadão uma cosmovisão do lugar que ocupa e impede a leitura das paisagens”, explica Menegat. Outros elementos denotam o comportamento social com base na linerialidade do ciclo de extração, produção, distribuição, consumo e descarte dos bens e serviços. Além do antropocentrismo, a mundialização do capitalismo, após a Segunda Guerra Mundial que, por sua vez, emerge junto aos avanços científicos e tecnológicos e às preocupações ambientais. “A natureza não tem tapete”, argumenta Menegat. Contudo, todas as colocações ainda se mostram ineficientes para alterar os padrões de vida prejudiciais.

Afinal, como acabar com a cegueira e a consciência inconsciente? Menegat aposta no diálogo entre as culturas para criação de uma nova consciência, do papel e condição do ser humano diante do meio ambiente natural e artificial. França complementa fixando o desenvolvimento sustentável como foco do debate. “Deve-se avaliar os problemas ambientais globais e locais, interligando as questões de sustentabilidade e justiça estendidos a todas camadas da sociedade”, explica França. Outra alternativa, baseia-se na técnica do “rappor”, da persuasão, defendida pelo jornalista Fernando Antunes. É a tentativa de encontrar um ponto positivo nas ações negativas, individuais ou grupais, e convertê-lo em consciência e ação. Assim, não se utilizariam discursos educativos e invasivos para modificar as ideologias, mas uma condução à atitude correta com relação ao todo. Está aí inserido o conceito dos mapas individuais, ou seja, as referências pessoais, que não devem ser invadidas, mas conhecidas e reestruturadas através da reflexão.

Nas variadas perspectivas exige-se a alteração no comportamento dos sujeitos, sobre suas práticas cotidianas, que passa pela compreensão, conscientização e concordância do sujeito para obter novos princípios de orientação sobre suas práticas. Assim, depende-se de atos individuais e movimentos coletivos comprometidos com a promoção, sensibilização, e transmissão de conhecimento, cujas ações resultem em transformações. É uma tentativa permanente que, embora urgente, se faz ao longo do tempo, partindo do entendimento que não é o planeta que corre risco, mas os seres que dependem dele, a sociedade que pode perecer.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Menegat e a invisibilidade da natureza

Por Rafaela Haygertt, participante do curso de Jornalismo Ambiental NEJ-RS


Nos dias 20 e 21 de agosto, o Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ-RS) promoveu um curso de Jornalismo Ambiental para discutir os desafios da cobertura do meio ambiente. O evento, que aconteceu no auditório da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS (Fabico), integrou as comemorações dos 20 anos do NEJ-RS e reuniu 37 pessoas, entre estudantes e profissionais interessados pelo tema.

A palestra de abertura ocorreu na noite de sexta-feira, dia 20 de agosto, e foi ministrada pelo geólogo, pesquisador e professor da UFRGS, Rualdo Menegat, que discorreu sobre a cegueira do ser humano em relação à natureza. Segundo o pequisador, o hemisfério sul vive uma década com diversos fenômenos naturais não comuns, e trouxe o exemplo dos ciclones extratropicais, como ocorreu em Santa Catarina, em 2004, além dos terremotos que despertam pavor às populações.

Com todas essas manifestaçãos naturais, afirma Menegat, a natureza tem se mostrado "um problema para os cidadãos urbanos". Entretanto, ressalta que tais mudanças não são problemas da natureza e, sim, do ser humano que lhe dá as costas. Todos estes fenômenos, explica o pesquisador, tem servido para mostrar que a humanidade desafia a natureza ao se aproximar cada vez mais das áreas de risco. É o que Menegat denomina de "cegueira da civilização humana contemporânea", em relação à natureza.

O geólogo alertou sobre a necessidade de aprendermos com os nossos erros, já que, segundo ele, não houve nenhuma cidade que não tenha sofrido com as inundações nestes últimos anos, as quais atingem em maior escala as populações que ocupam as áreas de risco.

No entanto, o mais problemático dos fenômenos, segundo Rualdo Menegat, é o aquecimento global, transformado pela imprensa em mais um espetáculo.“Isso mostra como estamos cegos para a natureza”, lamenta. ”O mundo urbano que construímos, está além da escala humana”, acredita o geólogo.

Para explicar o papel do homem no meio ambiente, Menegat trouxe duas palavras da língua italiana: ‘Voracino e Velocino’; a primeira ele associou ao consumismo voraz e a segunda à velocidade alucinada empreendida ao consumo. “Esses dois monstros tudo querem e numa velocidade excessiva”, brincou o palestrante.

Segundo o pesquisador, existe hoje um problema muito grande que é a transferência do custo ambiental, onde os municípios terceirizam para outros o seu lixo e, também, a sua responsabilidade com o meio ambiente. “Domesticar a urbesfera - a cultura do hábito urbano - é a grande questão para o futuro humano, um futuro humanista”, defende o professor.

O palestrante também falou sobre o recente desastre ambiental causado pelo petróleo no Golfo do México. “O evento do golfo o México é o maior desastre natural dessa década, e ninguém fala sobre isso”, critica. Para ele, nunca houve uma censura tão ferrenha, e relembrou que o silêncio da imprensa "só se compara à censura dos experimentos nucleares durante a guerra fria”.

Após a palestra, o docente da UFRGS respondeu algumas perguntas dos participantes, que foram desde a questão da desapropriação da vila do Chocolatão até a melhor forma de lidarmos com aqueles que não acreditam que o aquecimento global é uma realidade.

No final, Menegat deixou claro aos participantes: cuidar do meio ambiente é cuidar das pessoas.

domingo, 5 de setembro de 2010

Tecnourbesfera: a antinatureza

por Rodrigo Avila Colla, participante do curso de Jornalismo Ambiental NEJ-RS

Em palestra conferida no curso de Jornalismo Ambiental, o geólogo Rualdo Menegat definiu tecnourbesfera como sendo o ambiente forjado pelo homem a partir do processo de urbanização. Já não temos atmosfera sobre a cidade nem litosfera sob ela, temos uma atmourbesfera e uma litourbesfera. O quê de vida ainda resiste nesse meio que inventamos pela técnica vem a ser a biourbesfera.
Nesse sentido, a tecnourbesfera propicia um enxadrezamento (o traçado de tabuleiro dos quarteirões das cidades vistas de cima) antinatural dos seres humanos. Antinatural porque na natureza encontramos outro tipo de formas (espiraladas, fasciculadas, radiais, etc.). Esse enxadrezamento é só mais um indício de que o habitat que criamos para nós exclui o meio ambiente, o relega à periferia; é um sinal nítido de que nos distanciamos e nos tornamos, como a urbe, contrários a lógica do ecossistema, ou, dizendo de outra forma, de que estamos inclinados a entender a natureza como algo a ser dominado, restrito aos nossos jardins e quintais “tabuleiromorfizados”.
Menegat defende que, para biologizarmos o empedernido ambiente urbano, haveria de ter uma “revolução urbícola” que, em outras palavras, trouxesse o campo para dentro da cidade propiciando, assim, o plantio de diversas culturas no âmbito urbano. Ele interpela ainda: “Por que não pode haver aviários na cidade, por exemplo?”. Afinal, tanto se fala na importância da manutenção da biodiversidade e no gasto de energia que empreendemos para transportar alimentos de regiões remotas em relação aos centros urbanos. E mais: “Que biodiversidade há nas grandes cidades? Quantos milhares de litros de petróleo são gastos (e esse gasto implica poluição) na locomoção dos alimentos que colhemos das prateleiras dos supermercados?”
Não são questões que devamos responder com dados estatísticos, mas rechaçar com atitudes fundadoras de um processo urbícola que, paralelamente, será um processo de humanização da cidade.

Agressão ao patrimônio natural: loteamentos destroem APP’s em Passo Fundo


Antes do encaminhamento ao MPE, ambientalistas vão ao local das denúncias fazer o levantamento das infrações legais, como aterramento de banhados e canalização de nascentes

por Verônica Daniela Conceição, participante Curso de Jornalismo Ambiental NEJ-RS

As consequências causadas pelo desrespeito ao meio ambiente prejudicam a natureza e o próprio ser humano, mas falta muito para as pessoas conviverem com responsabilidade e respeito ao próximo e demais seres vivos.
Segundo Hernán Sorhuet, meio ambiente é o conjunto de sistemas naturais e sociais habitados pelas pessoas e os demais seres vivos existentes no planeta, autor citado, colunista do jornal uruguaio El Pais que palestrou sobre “Desafios da cobertura jornalística dos temas ambientais”, e afirma que a informação é um bem social. “Embora a finalidade do jornalismo ambiental seja informar, não é um simples intermediário, senão um participante ativo da construção da sociedade sustentável que confrontará fontes hierarquizará informação e questionará dados, posturas e decisões.”
O curso de Jornalismo Ambiental promovido pelo Núcleo dos Ecojornalistas, NEJ-RS, aconteceu em Porto Alegre e contou também com o professor Rualdo Menegat da UFRGS que questionou sobre “Cegueira e civilização, onde está a natureza?”. Usando imagens fortes de desastres ambientais, mostrou um panorama das cidades, a relação homem/natureza e a busca de uma cultura urbana sustentável.
No norte do Rio Grande do Sul, a bióloga Adriane Deon, militante do Grupo Ecológico Sentinela dos Pampas, GESP, conta que é comum em Passo Fundo a canalização de córregos devido à transformação dos mesmos em canal de esgoto e lixão, bem como o despejo de dejetos e resíduos em banhados e áreas de nascentes. Empresas imobiliárias ou pessoas físicas aterram esses ecossistemas para transformá-los em loteamentos urbanos, com ou sem licença, em desrespeito às Áreas de Preservação Permanente, as APP’s. Estas ocupações são causa de problemas de assoreamento dos rios e impermeabilização e erosão do solo que contribuem para eventos extremos como enchentes e alagamentos.

APP’s em área urbana ou área urbana em APP’s?
A especulação imobiliária associada à falta ou ineficiência de políticas públicas de gestão da expansão urbana e a falta de fiscalização empurram as camadas mais pobres da sociedade para áreas irregulares e de ocupação ilegal. Ocorre, dessa forma, a expansão de favelas e loteamentos irregulares, onde, além da precariedade da infra-estrutura (rede de água e esgoto, coleta de lixo, iluminação pública, calçamento de ruas, praças, etc) e serviços públicos (postos de saúde, escolas, etc), grande parcela da população convive com graves problemas socioambientais. Em especial, como quando da ocupação de APP’s, que ocorre ao longo de rios, em áreas úmidas como banhados, próximo a nascentes e córregos, próximo a barragens de captação de água, em terrenos com grande declividade e topos de morros, entre outros.
Conforme a bióloga ambientalista, o GESP recebe muitas denúncias de agressões em áreas de preservação permanente as quais, após realizar uma vistoria e coleta de dados, encaminha as informações ao Ministério Público Estadual, MPE. Dentre as denúncias, está um caso antigo, relativo a dano ambiental que vem ocorrendo na área do Bosque Lucas Araújo. Nesta área, onde residem famílias de média a alta renda existe áreas úmidas e nascentes que formam olhos-d’água que deságuam no Arroio São Roque tributário da Bacia Hidrográfica do Rio Jacuí e que também vêm sendo agredidas com a deposição de lixo. Os fatos envolvem agressão em área de preservação permanente, APP, neste bairro cujo nome revela ser a área um fragmento representativo de Mata Atlântica existente na cidade de Passo Fundo e que merece especial atenção das autoridades e órgãos fiscalizadores.
O GESP já encaminhou ao MPE denúncias também de invasão de APP’s por famílias de baixa renda, com o aval do poder público. Um dos casos é o da Vila Bom Jesus, cuja renda provém da coleta de material reciclável. A área foi um ecossistema de banhado consistente, com vegetação característica, que tinha a presença de espécies da fauna local e recursos hídricos com pequenas nascentes e arroios. Foi feito arruamento com deposição de asfalto e sistema de drenagem das águas superficiais ao lado de um ecossistema úmido, sendo o local considerado pela legislação vigente, área de preservação permanente. Para ocorrer à intervenção em uma APP, explica Adriana, é necessário ser feito um parecer do órgão Estadual responsável, desde que se tenha uma utilidade pública para este. No local não se encontra nenhuma moradia a ser beneficiada pela rua, tanto que esta não tem saída.
Contudo, um dos casos que mais chamou a atenção dos ambientalistas em Passo Fundo, foi a denúncia que o GESP atendeu sobre as atividades que estão acontecendo na área onde está projetado o Conjunto Habitacional Par Planaltina. A bióloga Adriana explica que a área em questão encontra-se junto a um fragmento de Floresta Ombrófila Mista pertencente ao Bioma Mata Atlântica, incluindo vários exemplares de Araucária (Araucaria angustifólia), associado a uma área de campo nativo sulino, possuindo vegetação e fauna característica para ambos os ecossistemas. Sendo assim, uma área nobre em recursos hídricos contando com nascentes e um córrego que, inclusive, já tem uma parte canalizada devido às residências existentes no local. “Este córrego é tributário do Arroio São Roque pertencente à Bacia do Alto Jacuí e as obras do empreendimento habitacional provocaram impacto e degradação em APP, como a supressão da vegetação e deposição de resíduos da terraplanagem e da vegetação, num raio que varia de 15m a 28m de extensão, abrangendo a demarcação das estacas até a borda do fragmento; a demarcação do talude invade a APP em aproximadamente 7 metros, estando apenas a 23 metros do córrego; a demarcação do talude avança 16 metros adentro do que a Legislação vigente permite quanto a nascentes e olhos-d’água (que é de 50 metros), estando este a apenas 34 metros. E ainda, agravando a situação, existe depósito de resíduos da terraplanagem a apenas 8 metros do olho-d’água,” descreveu a dramática situação no Conjunto Habitacional.

Mais informações: http://gesppf.blogspot.com/

FOTO: Arroio Pinheirinho na Vila Lucas Araújo/Arquivo GESP-2009

domingo, 29 de agosto de 2010

Em breve NEJ-RS divulga produção dos participantes em curso de jornalismo ambiental

Em breve, o Núcleo dos Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ-RS) vai divulgar neste espaço os textos produzidos pelos participantes do curso de jornalismo ambiental que aconteceu nos dias 20 e 21 de agosto sobre “Os desafios da cobertura ambiental”. A atividade integrou a programação especial alusiva aos 20 anos de atuação ambiental do NEJ-RS.

O curso trouxe a Porto Alegre o jornalista Hernán Sorhuet, colunista do jornal uruguaio El País, que cobre meio ambiente há vários anos. E também: os professores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Rualdo Menegat (Doutor em Ciências) e Fernando Antunes (Mestre em Comunicação Social).

O evento teve o apoio da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS, onde aconteceu a programação. O patrocínio foi da Petrobras e da loja Grão Natural.

A produção de textos (reportagem, artigo, etc) pelos participantes do curso foi uma oportunidade de conferirem na prática como é fazer jornalismo ambiental. Foi dado um prazo de sete dias para o desenvolvimento do trabalho cuja orientação foi dos integrantes do NEJ-RS: Lisete Ghiggi (Professora do IPA), Ilza Girardi (Professora da UFRGS), Eliege Fante (Mestranda PPGCOM/UFRGS) e Eloísa Beling Loose (Mestre em Comunicação e Informação PPGCOM/UFRGS).