sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Presidente eleito da Aidis quer melhorar a comunicação entre os associados

Carlos Alberto Rosito será empossado durante o XXXI Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental, que abre neste domingo, em Santiago do Chile

O presidente eleito da Associação Interamericana de Engenharia Sanitária e Ambiental (AIDIS) pretende modernizar a entidade, concluir seu plano estratégico e concentrar a luta pela universalização da água e do saneamento na América Latina até 2025. Carlos Alberto Rosito será o sexto brasileiro a presidir a entidade. Ele considera que os dez mil associados da entidade formam uma extraordinária rede de especialistas em água, saneamento e meio ambiente disseminados por toda a América. "Agora só falta melhorar o conhecimento mútuo."

Rosito diz que seu objetivo é contribuir para realizar um grande sonho: levar água e saneamento a todos os latino-americanos em prazo razoável. Ele tem grande experiência no campo da engenharia sanitária e ambiental, e uma longa carreira como dirigente empresarial. Atuou na Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústrias de Base, na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e na Associação Brasileira das Indústrias de Equipamentos e Materiais para Saneamento (Asfamas), da qual foi presidente em quatro períodos.

Rosito destaca que, em primeiro lugar, é preciso melhorar o conhecimento mútuo sobre a atuação de cada capítulo da Aidis. "A segunda prioridade será concluir o novo plano estratégico, tarefa começada na atual administração de Adalberto Noyola e da atual equipe diretiva. Por último, mas não menos importante, vamos catalizar a luta pela universalização da água e do saneamento até 2025 em toda a região."

O XXXI Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental ocorrerá no centro de eventos Casa de Piedra, em Santiago do Chile, de 12 a 15 deste mês. Simultaneamente, estará sendo realizado o Fórum Internacional sobre Serviços de Água e Saneamento, com a participação de gestores de serviços públicos, e a Expoaidis 2008, que reunirá uma centena de fabricantes de equipamentos, distribuidores de materiais e representantes industriales e comerciais.


Mais informações: AIDIS CHILE www.aidis.org.br e www.aidis.cl

Auto-engano

Por Danilo Pretti Di Giorgi

Os estudiosos da mente humana já nos alertaram muitas vezes para a perigosa armadilha do auto-engano, que ocorre em maior ou menor grau com todos nós. Da profunda sabedoria dos ditos populares temos "o pior cego é o que não quer ver". Nas poesias de Renato Russo é possível garimpar que "mentir para si mesmo é sempre a pior mentira".

Em alguns casos, as raízes do auto-engano estão tão ardilmente escondidas dentro dos nossos infinitos labirintos interiores que se tornam quase imperceptíveis e muito difíceis de serem trazidas à luz. Em outros o problema é escancarado, ao menos para quem vê de fora. O exemplo mais clássico é o do cônjuge traído que é o "único que não sabe" (finge não saber) da infidelidade de que é vítima, apesar das evidências.

Com a questão ambiental, a sociedade como um todo parece estar sendo vítima de um surto generalizado de auto-engano. Um bom exemplo é o conteúdo do caderno 'Mais!', editado pela Folha de São Paulo e publicado no dia 21 de setembro. A primeira página, bonita como de costume, traz, em letras grandes: "O Mundo em 2050". O jornal convidou sete especialistas para "projetar o cenário geopolítico do planeta" no futuro, sob o ponto de vista econômico. Os textos, assinados por acadêmicos das maiores universidades brasileiras, fazem previsões de como estará o mundo daqui a 42 anos e foram divididos em sessões com informações paralelas referentes aos principais grupos geopolíticos.

Comecei a ler o suplemento esperando encontrar ali muitas referências à questão das mudanças climáticas, talvez até mesmo páginas inteiras dedicadas ao assunto. Esperava ainda que o tema fosse tratado com profundidade, dominando mesmo o foco dos artigos, uma vez que me parece ser impossível separar a questão ecológica da questão econômica. O futuro da economia dos países é absolutamente dependente da forma como vamos lidar com as limitações impostas pela questão climática.

Terminei a leitura surpreso com o fato de não ter encontrado virtualmente nada ligado à questão do aquecimento global. Referências rasas ao tema em apenas um artigo, e ainda assim de passagem, limitadas aos efeitos da redução do acesso à água na África. Nada sobre seus efeitos no resto do mundo.

Como explicar tal fato a não ser pela teoria do auto-engano? Que leitura pode ser feita a não ser a de que estamos evitando encarar o problema, apesar de que, para onde quer que olhemos, vemos sua cara feia? Não esperava necessariamente ler nos textos do suplemento previsões catastróficas, mas é inaceitável que a questão climática não tenha sido sequer citada com a seriedade que merece, dada sua magnitude e sua potencial influência no futuro das economias. Qualquer estudo sério nesse sentido precisa considerar as possibilidades de alterações na agricultura, aprofundamento do drama da fome, crescimento nas migrações, guerras e catástrofes naturais que o aquecimento global pode causar.

Afinal de contas, 2050 é exatamente a data definida em reunião recente do G8 para reduzir as emissões de CO2 em 50% (sabemos o quanto este tipo de declaração conjunta dos países mais poderosos tem de retórica vazia, mas, enfim, nem mesmo eles foram tão longe a ponto de ignorar a questão). A data simbólica também apareceu muitas vezes nos ultimamente tão esquecidos textos do IPCC (o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU), que, no ano passado, geraram muita polêmica com suas previsões catastróficas para o futuro em caso de manutenção dos níveis atuais de emissão de poluentes.

Seria aceitável que os textos contestassem os estudos que indicam a necessidade de mudança radical nos rumos da economia. Entenderíamos que os acadêmicos afirmassem acreditar no surgimento, nas próximas décadas, de tecnologias hoje inimagináveis para eliminar o gás carbônico da atmosfera, que questionassem os cientistas e seus números, reduzindo assim o peso da questão climática para o futuro da economia. Que fossem até mesmo excessivamente pessimistas, aceitando que os países não farão muita coisa. Tudo isso seria mais fácil de entender.
Mas o maior jornal do país, ao se propor a realizar um exercício de futurologia para o estado das sociedades em 2050, simplesmente ignorar a questão das mudanças climáticas é um triste indicativo da nossa dificuldade em aceitar a realidade que está aí para quem quiser ver: já passou da hora de partirmos com firmeza em busca de caminhos alternativos e deixarmos de concentrar esforços em atividades comprovadamente nocivas ao futuro da humanidade, como extração de petróleo em alto-mar e construção de usinas hidrelétricas que vão afetar o curso dos últimos grandes rios brasileiros ainda intactos.

*O autor é jornalista. Publicado no Correio da Cidadania. digiorgi@gmail.com

A vida moderna e seus venenos obrigatórios (II)

Por Najar Tubino*

Até o final da Guerra do Vietnã, foram jogados 50 milhões de litros de DDT , das mais diversas formas, incluindo fumigadores manuais. Mesmo tipo de equipamento usado pelos funcionários da Superintendência de Combate a Malária, na Amazônia, onde nos últimos anos, despejaram 3 toneladas do veneno.

O mundo registra anualmente um milhão de mortes por malária. Quer dizer, os mosquitos se tornaram resistentes. Em 2005, um Tribunal Federal nos Estados Unidos, negou o pedido de indenização da Federação Vietnamita das Vítimas do Agente Laranja – os contaminados formam um exército de 650 mil a 4 milhões de pessoas.

Embora a indústria química já tivesse pago 180 milhões de dólares a 15 mil veteranos. Cujos filhos nasceram com braços e pernas mal formados, e muitos morreram em conseqüência de câncer, de vários tipos.

Os funcionários da Sucam ainda lutam na justiça contra o governo federal pedindo indenização. A história dos químicos sintéticos no mundo, desde a década de 1980, quando os países industrializados proibiram o uso das substâncias comprovadamente cancerígenas não para de colecionar denúncias de danos ao corpo humano e ao restante da vida natural.

Cobaias grávidas

Mas foram necessárias mais de três décadas, para que as denúncias surtissem efeitos. O ano de 1938 é definitivo: a descoberta do DDT, pelo cientista Paul Muller, prêmio Nobel da Medicina (1948), e a descoberta da síntese do primeiro hormônio em laboratório, realizada pelo pesquisador inglês Edward Dodds, depois transformado em cavaleiro do rei. Ele descobriu o DES (Dietilestilbestrol) .

O DDT surgiu como o pesticida milagroso, era usado até para combater traça nas roupas . O DES, indicado para combater problemas na gravidez (aborto), passou a ser receitado de forma generalizada. Foi a maior experiência em massa, que se tem notícia: 5 milhões de mulheres grávidas. A droga maravilhosa também era usada como promotor de crescimento em aves, porcos e bois.

Trio sinistro

A trágica atuação do DES está descrita no livro “O Futuro Roubado”, dos pesquisadores norte-americanos Theo Colborn, Dianne Dumanoski e John Peterson Myers. Lançado nos Estados Unidos em 1996, com prefácio de Al Gore, chegou ao Brasil seis anos depois, com prefácio de José Lutzenberger – acrescentou algumas informações, no final. O livro é considerado uma complementação atualizada do trabalho de Raquel Carson. Ele aborda também os PCBs (bifenilos policlorados), descobertos em 1939.

Este trio sinistro formava as bases da modernidade da época, pós segunda guerra mundial. Os PCBs eram agentes químicos que não pegavam fogo, tinham estabilidade, substituíram os óleos, nos transformadores da rede elétrica. A vida moderna incluía a comodidade da luz elétrica, os eletrodomésticos ( liqüidificadores, geladeiras, aspiradores), e outros confortos.

Em todos os lugares

Em 1962, estourou o escândalo da talidomida, um químico usado como calmante e contra náuseas receitado as grávidas. Foi usado durante 30 anos. Até que os médicos começaram a associar os problemas de mal formação em crianças nascidas, cujas mães, tomaram o remédio. O problema mais comum: atrofia de braços e pernas. Foram registrados oito mil casos de crianças deformadas, em 46 países. Considerado o primeiro baque contra a arrogância da tecnologia e o discurso das drogas maravilhosas. Logo em seguida, em 1966, o cientista sueco Soren Jensen, publicou na revista inglesa “New Scientist”, os resultados da sua pesquisa. Substâncias químicas encontradas em todos os lugares, em aves, no solo, nos mares da Suécia, nos cabelos da sua mulher e da filha recém nascida. Eram os PCBs.

A partir daí, fecharam o cerco. Estes agentes químicos entram na cadeia alimentar e vão aumentando sua concentração minúscula – partes por bilhão. São persistentes, fixam na gordura, e duram décadas. Em 1976, os Estados unidos proibiram a fabricação dos PCBs. Em quase 50 anos de produção, os volumes atingiram 1,5 milhão de toneladas. Os agentes continuaram sendo exportados. E, aqueles, já instalados em transformadores, continuam até hoje. Em 1996, no Rio de Janeiro, alguns transformadores do metrô, foram danificados perto de uma favela. Os moradores quebraram o recipiente e levaram o óleo – conhecido como Ascarel, no Brasil. Usaram como óleo de fritura e também como bronzeador.

Semelhança molecular

Esta não é a pior parte. Os cientistas descobriram que alguns agentes químicos orgânicos sintéticos se parecem com os hormônios naturais, principalmente o estrógeno (feminino) e a testosterona (masculina). A semelhança é molecular: os hormônios tem quatro anéis de carbono, na sua estrutura química. Os agentes, como DDT, por exemplo, têm dois anéis de carbono.

No caso dos PCBs são dois anéis de cloro ligados com dois anéis hexagonais de benzeno – daí o nome bifenilo. Uma família, como registram os químicos, de 209 substâncias. Como inflamáveis protegem madeira, borracha e tornam o plástico estável. Ainda são ingredientes de corantes, vernizes e tintas.

Imitadores de hormônios

Juntamente com as dioxinas, substâncias derivadas da queima de produtos que contém cloro ou carbono – família com 75 agentes -, e os hidrocarbonetos clorados são alteradores de hormônios. No corpo humano, os hormônios funcionam como mensageiros químicos – têm receptores, usam um sistema tipo fechadura e chave. Os químicos sintéticos tem a capacidade de imitar o mensageiro, interferindo na mensagem, produzindo outros resultados. Isso acontece na fase pré-natal de um bebê humano, de uma ave, de um peixe.

Os primeiros resultados registrados pelos cientistas foram os índices de determinados tipos de câncer: de mama, que começou acumular aumento de 1% anual, nos Estados Unidos, depois a Segunda Guerra Mundial, e o de próstata, nos homens. Os dois tipos, estão entre as duas maiores causas de mortes por câncer, nos Estados Unidos. Situação que envolve outros países industrializados.

Começou com corantes

Atualmente, são 51 compostos químicos definidos como alteradores de hormônios. Além dos grupos citados, incluem os alquilfenóis, usados no poliestireno e no polvinil-cloreto (PVC) – deixam o plástico mais estável, menos quebradiço. Também encontrados em detergentes domésticos, nas substâncias conhecidas como polietoxilatos - na década de 1990, os europeus baniram o uso em detergentes domésticos.

A indústria química, que iniciou suas atividades industriais na metade do século XIX (1850), sintetizando corantes têxteis, para roupas e tecidos em geral, explodiu a produção de sintéticos nos anos seguintes. Agentes químicos com base em carbono, avaliava-se, por volta do ano 2000, uma produção acima de 20 milhões de toneladas – são mais de 100 mil agentes químicos sintéticos.

Caso escandaloso

As notícias a respeito das problemas nefastos causados por eles, continuam abastecendo o noticiário mundial e local, diariamente. No Rio Grande do sul, o agrônomo Darci Bergmann, da Associação São-Borjense de Proteção ao Ambiente Natural, denuncia o uso indiscriminado de herbicidas em toda a fronteira oeste. Sintoma mais visível está na morte das árvores centenárias. Entre os herbicidas citado por ele o 2,4-D, um dos componentes do Agente Laranja . Na China, um caso escandaloso, envolvendo 22 indústrias produtoras de leite em pó e produtos lácteos, e a melamina, substância química usada em plásticos, como aderente. Servia para falsificar os índices de proteína. Quatro bebês morreram, 54 mil crianças foram hospitalizadas. Virou escândalo internacional, porque até mesmo a União Européia importava produtos que contém leite – biscoitos, massas, tortas – da China.

*O autor é jornalista no Rio Grande do Sul e palestrante sobre meio ambiente. najartubino@yahoo.com.br

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Votação do Projeto Pontal do Estaleiro será na próxima quarta-feira

A Mesa da Câmara Municipal de Porto Alegre e as lideranças dos partidos, reunidos ontem, decidiram marcar a votação do Projeto Pontal do Estaleiro para quarta-feira da próxima semana, dia 15/10, confirmando os temores das entidades contrárias à proposta, que preferiam a votação na próxima legislatura.

Segundo a Diretoria Legislativa da casa, oito vereadores votaram a favor desta data: João Carlos Nedel (PP), Ervino Besson (PDT), Haroldo de Souza (PMDB), José Ismael Heinen (DEM), Elias Vidal (PPS), Dr.Goulart (PTB), Maristela Maffei (PC do B), Nereu D’Ávila (PDT).

Tentaram adiar a decisão para depois do segundo turno da eleição, mas não conseguiram, Margarete Moraes (PT), Carlos Todeschini (PT) e Professor Garcia (PMDB).

O projeto modifica as características da orla do Guaíba com a construção de espigões e encontra grande resistência da parte de ONGs, entidades e associações comunitárias.

Após tomar conhecimento da decisão da mesa, o Fórum de Entidades que acompanha a revisão do Plano Diretor da cidade decidiu organizar uma visita aos candidatos a prefeito, Maria do Rosário (PT) e José Fogaça (PMDB), que concorre à reeleição.

Também vão procurar os vereadores eleitos para questionar a legitimidade de uma votação agora, por vereadores em final de mandato, já que 44% da câmara foi renovada.

Conforme o advogado Christiano Ribeiro, do Movimento Integridade, o projeto tem uma série de irregularidades, desde o vício de iniciativa - de vereadores – até o trâmite da matéria na câmara, pois faltam os pareceres das comissões de Habitação e de Saúde e Meio Ambiente.

"É um projeto apenas para beneficiar um único empreendedor, sem justificativas de intereese social e utilidade pública, e com alternativa locacional”, afirma Ribeiro.

Além disso, o próprio líder do governo, Professor Garcia, seria contrário à proposta que altera o Plano Diretor para viabilizar as obras, porque ela deveria ter partido do Executivo.

O Fórum que reúne cerca de 70 entidades pretende também organizar uma vigília na Câmara Municipal desde a véspera da votação.

Por Ulisses A. Nenê, da EcoAgência. Reprodução autorizada, citando-se a fonte.

Por que conservar a natureza afinal?

Por Fernando Fernandez

Até hoje, a meu ver, o cinema só produziu uma obra prima sobre conservação da natureza. Acho que o único filme que já vi que merece este título é um dos mais despretensiosos, mas ao mesmo tempo um dos mais puros e mais sinceros: Dersu Uzala.

Dersu Uzala é um dos filmes menos conhecidos do grande cineasta japonês Akira Kurosawa, falecido há alguns anos. Fez até bastante sucesso quando foi lançado, em 1975, mas depois disso pouca gente ouviu falar dele.

O filme conta a história da amizade entre duas pessoas imensamente diferentes: um cartógrafo russo, urbanóide, Arseniev, e um caçador siberiano, que é o tal Dersu. Arseniev lidera uma expedição cartográfica à Sibéria, no início do século XX, e contrata Dersu como seu guia pelas vastidões geladas.

Dersu Uzala é um filme lento, com pouca ação, que pode parecer impalatável para alguns cinéfilos acostumados ao ritmo vertiginoso das produções hollywoodianas. Mas vale a pena garimpar as sutilezas com carinho, porque sua paciência será regiamente recompensada: essa majestosa obra prima tem várias cenas antológicas.

Um dos maiores pequenos tesouros é a cena da fogueira.Arseniev, Dersu e os soldados da expedição do primeiro estão em volta do fogo, à noite, comendo um animal recém abatido. De repente, um soldado pega um grande naco de carne e o joga no fogo. Para surpresa geral, o idoso Dersu pula, coloca a mão nas chamas e tira a carne do fogo. O soldado fica perplexo, e segue-se um diálogo mais ou menos assim: "Por que você fez isso? Você podia se queimar!" Dersu responde: "Por que você quer jogar essa carne no fogo? Outra gente vai chegar depois de nós e vai querer comer." O soldado retruca: "Você está maluco? Nós estamos no meio da Sibéria! Não tem gente nenhuma aqui!"

Isto era em 1907, não se esqueça. Mas Dersu então diz, irritado: "A floresta tem muitas gentes". Para Arseniev, assistindo à discussão à distância, subitamente a ficha cai: sua sutil expressão desconcertada é inesquecível. Ele nem precisaria esperar Dersu completar: "Pode vir um rato, um texugo ou uma gralha, porque você vai jogar a carne no fogo?" O soldado olha ainda sem entender.

A cena da fogueira de Dersu Uzala é inesquecível, entre outras coisas, pelo claro foco de Dersu em conservação, muito além do ambientalismo: pode ser que nenhuma gente de nossa espécie venha, mas nem por isso as outras espécies não merecem sua consideração.

Por que conservar os animais e as plantas afinal? Podem ser apresentadas uma série de razões para isso. Uma das mais ouvidas é que as espécies são fontes de produtos úteis para a humanidade. Em alguma espécie de planta pode estar a cura do câncer, outra poderá fornecer o princípio ativo de algum cosmético fabuloso, ou genes que podem, quem sabe, ser transplantados para outra espécie com efeitos favoráveis. Esse argumento parece à primeira vista fazer bastante sentido. Porém, como bem apontado na revista científica Oikos pelo grande ecólogo inglês John Lawton em 1991, se queremos conservar a biodiversidade, ou pelo menos uma parte expressiva dela, esse é um argumento enganoso, e pode chegar a ser perigoso.

Nem todas as espécies são úteis. Para começo de conversa, a maioria das espécies animais são besouros. Há imensa redundância em qualquer grande grupo animal ou vegetal, na bioquímica como em qualquer outra coisa.

Muitas espécies são distinguíveis de suas parentes mais próximas apenas por ínfimas sutilezas em suas colorações, suas genitálias ou mesmo seu comportamento, sutilezas essas que só um especialista com anos de treino é capaz de perceber. Isso acontece porque na evolução o processo de especiação (formação de espécies) se dá por isolamento reprodutivo – uma espécie não mais cruzar fertilmente com a outra – e não por quantidade de diferenças entre as espécies.

Sendo assim, muitas espécies têm genótipos muito similares ao de espécies próximas, e se desaparecessem, não estariam nos privando de substâncias particularmente diferentes ou valiosas. Provavelmente, embora muitas espécies sejam ou possam ser diretamente úteis ao homem, a maioria não o é.

O mesmo, claro, pode ser dito das utilidades mais óbvias das espécies, para agricultura, pecuária e extrativismo. As espécies adequadas para exploração por essas maneiras são uma ínfima proporção das espécies existentes.

O maior problema com esse padrão é que os inimigos da conservação podem facilmente apontar isso e contra-argumentar que, pelo argumento básico da utilidade, a grande maioria das espécies não precisam ser protegidas. Não podemos, portanto, depender desse tipo de argumento.

É verdade que o argumento da utilidade das espécies tem uma versão aperfeiçoada que diz que algumas espécies são úteis afinal, não sabemos quais são ou não, e nessa situação é melhor conservarmos todas elas, ou pelo menos quantas pudermos.

Colocado dessa forma, é um argumento bem mais respeitável, mais difícil de rebater, e portanto mais efetivo. Mesmo assim, não me parece que seja suficiente. Afinal de contas, redundâncias continuam existindo na natureza, e as ciências biológicas tem deixado cada vez mais claro onde elas estão.

Sendo assim, depender do argumento de que temos que conservar todas as espécies por que não sabemos quais são úteis no fundo é apostar contra o progresso da ciência e do conhecimento. Longe de mim fazer esta aposta.

Há, porém, algo que me desagrada mais fundo nas abordagens utilitaristas, mesmo nessa forma mais aperfeiçoada. Esse algo foi expresso com brilhantismo pelo próprio Lawton: "o argumento de que precisamos conservar espécies porque elas podem ser úteis é um argumento ao qual falta alma. É sensato, é verdadeiro, mas não tem espírito, não tem dimensão humana. É o argumento dos tecnocratas..." Cortei pelo meio a citação, desculpe, mas vou me redimir mais abaixo.

Pode ser até então que argumentos estreitamente utilitários sejam úteis, em determinados fóruns, para convencer os tecnocratas. Mas não me considero um tecnocrata, e se você também não for, precisamos continuar nossa procura, indo bem mais fundo – ou quem sabe, mais atrás no tempo. Me lembro bem de quando aprendi história. Era uma de minhas matérias favoritas na escola e não tenho vergonha de confessar que esperava ansiosamente pelas aulas – que eram muito boas. Mas não me lembro de ter ouvido falar naquelas aulas, nem uma só fez, do efeito da degradação ambiental sobre a trajetória das civilizações humanas.

A história, como era pesquisada e ensinada, era completamente cega a isso. Essa situação tem mudado completamente nas últimas décadas, e talvez o maior marco desta mudança até agora seja o maravilhoso e perturbador "Colapso", de Jared Diamond, lançado em 2005. Se Diamond estiver certo – e seus argumentos são muito convincentes – várias das grandes civilizações do passado entraram em decadência e eventualmente colapsaram por causa de sua incapacidade de manejar adequadamente seus recursos naturais, ou mais precisamente de manter os processos ecológicos que geravam tais recursos. Ou seja, a manutenção da qualidade da água, fertilidade do solo, proteção contra erosão e regulação climática, entre outros, são serviços cruciais que os sistemas ecológicos nos prestam.

Todas as nossas civilizações dependem disso, e cuidar bem ou mal dos processos ecológicos tem sido um dos grandes determinantes de que civilizações deram certo ou não. Só isso, e tudo isso. Conservar a natureza por essa razão não deixa de ser até certo ponto uma visão utilitária, mas a meu ver essa necessidade de conservar os processos ecológicos é um argumento infinitamente mais poderoso para a conservação da biodiversidade do que a mera utilidade de cada espécie como fonte de produtos.

Nos últimos anos, com os efeitos cada vez mais óbvios das mudanças climáticas globais, destruindo os delicados mecanismos regulatórios dos processos ecológicos vitais para a biosfera, a sombra do passado se torna cada vez mais inquietante, agora na escala do planeta inteiro.

Nosso futuro depende cada vez mais da manutenção dos processos ecológicos. No entanto, sejamos sinceros: esse argumento não explica por que muitos de nós fazemos conservação.Se você perguntar a um(a) conservacionista porque ele (ou ela) defende os animais, é provável que a resposta seja algo como, "porque eu gosto de bichos" (ou de plantas, conforme o caso).

Eu me lembro de um debate onde vi José Truda, do Projeto Baleia Franca, depois de tentar longamente argumentar porque era importante preservar as baleias, explodir dizendo "Quer saber duma coisa? Eu não tenho que justificar por que eu quero conservar baleias, eu quero conservar baleias por que eu gosto de baleias!"

Esse é o argumento sincero, verdadeiro, que vem da alma. Pode, é claro, ser um argumento bastante fraco se o virmos como uma idiossincrasia, como um capricho meramente individual. Mas não creio que seja o caso. Quero, ao invés disso, argumentar que nós gostamos de animais porque somos um, e que aí pode estar a resposta que procuramos.

Uma idéia profundamente revolucionária, proposta por Edward Wilson em 1994, é a da biofilia. A idéia central da biofilia é que gostar da natureza é um dos instintos fundamentais do ser humano. Em uma imensa variedade de outros animais, é comum o processo que os ecólogos chamam de "seleção de habitat".

Os animais são encontrados nos habitats favoráveis a eles porque tem instintos, evoluídos por seleção natural, para reconhecer tais habitats, nos quais evoluíram.

O homem é uma espécie biológica, cujo comportamento é influenciado pela cultura adquirida nos últimos poucos milhares de anos, mas também, estejamos habituados a pensar nisso ou não, por instintos evoluídos ao longo de milhões de anos. Por isso, o homem tende a se sentir bem quando está em habitats similares àqueles em que evoluiu – o que explica porque, independente da cultura, gostamos de ir para áreas naturais para nossa recreação.

Um dos exemplos mais maravilhosos de Wilson é quando ele se pergunta que tipo de habitat os paisagistas quase invariavelmente planejam, quando se dá a eles absoluta liberdade de criação. O resultado –freqüentemente visto em parques urbanos, campi universitários e condomínios - é uma paisagem com vastos espaços abertos, com o solo coberto de gramíneas, intercalados com pequenos bosques aqui e ali. Isso, Wilson alega, é uma reconstrução de uma savana – o habitat onde nossa espécie evoluiu.

Similarmente, nós tendemos a gostar de animais, e de modo geral mais intensamente de animais mais parecidos conosco. Isso aconteceria por que instintivamente reconhecemos – com toda razão, de um ponto-de-vista evolutivo – que são próximos de nós.

Se Wilson está certo, ninguém precisa aprender a gostar de bichos: todos nós já nascemos gostando deles. Gostar dos bichos pelos bichos é muito mais que uma "estratégia" para a conservação da natureza: é uma parte de nós mesmos, que pode ser perdida ou não. Podemos, ao longo da educação, perder contato com a natureza - isso é cada vez mais fácil hoje em dia - e desaprender a gostar de bichos. Mas se conseguirmos evitar isso, aceitar nossa própria natureza animal, inclusive a biofilia que é parte importante dela, é um maravilhoso caminho tanto para o crescimento pessoal como para a mudança global.

Não, Truda, você não tem que se justificar por gostar de baleias. Isso é parte da sua natureza, da minha, e da de todos nós. As pessoas têm vidas mais felizes quando respeitam suas próprias naturezas. Não deveríamos precisar de mais nenhum argumento. Completando a citação do Lawton, "... nós não conservamos concertos de Mozart, pinturas de Monet e catedrais medievais por que eles são úteis. Nós os conservamos porque eles são bonitos e enriquecem nossas vidas." Assim é também para os animais e as plantas, com a vantagem de que quanto à natureza temos também outros argumentos, para os difíceis de sensibilizar. É que, com todo respeito (e admiração) que tenho por Mozart e Monet, nosso futuro depende muito mais dos processos ecológicos da biosfera do que deles.

Não tenho nenhuma ilusão de que estejamos próximos de onde deveríamos estar. No nosso complexo mundo cultural, muitas outras fortíssimas influências, a começar por doutrinas religiosas que nos dizem que a natureza foi feita para nós, competem com a biofilia e nos levam a perder contato com nossas próprias naturezas.

Hoje, a maioria das pessoas ainda está mais perto daquele soldado olhando pasmo para o Dersu do que do próprio Dersu.No Mundo de hoje, enfrentar e resolver os problemas sociais, que causam tanto sofrimento humano à nossa volta, é sem dúvida fundamental. Acho que todo mundo concordaria com a proposição de isso só vai dar certo se o fizermos a partir de uma genuína preocupação com as pessoas, com os direitos de todos nós a vidas dignas e gratificantes.

Dito isso, como argumentei acima, e como Diamond e as mudanças climáticas tem mostrado, conservar a natureza é essencial para o bem estar e para a própria prosperidade das sociedades humanas. No entanto, o leitor pode já ter reparado que eu raramente uso a expressão "meio ambiente". Não gosto muito dessa expressão.

A razão porque eu não gosto é que quando se fala em "meio ambiente", está implícito que nos referimos ao ambiente ("meio ambiente" é pleonasmo) para a nossa própria espécie. Ou seja, o discurso de "meio ambiente" nos deixa presos ao argumento utilitário. Não gosto de depender disso. Para mim é claro que a mesma proposição que fiz acima para os problemas sociais também se aplica à conservação: num Mundo de tantos interesses econômicos e sociais conflitantes, só acredito que seremos bem sucedidos em conservar os animais e as plantas se o fizermos por eles mesmos, pelo direito que eles têm à vida. Não tenhamos uma visão estreita. Conservar a natureza é bom para a gente. Mas como Dersu já sabia, a floresta tem muitas gentes.


Por Fernando Fernandez, biólogo, PhD em Ecologia pela Universidade de Durham (Inglaterra). Professor do Departamento de Ecologia da UFRJ, seu principal interesse em ensino e pesquisa é a Biologia da Conservação.

Minc diz que área para plantio de cana-de-açúcar terá mais 7 milhões de hectares

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse ontem (9) que a área autorizada para plantio de cana-de-açúcar será ampliada em 7 milhões de hectares. Para isso, os plantadores receberão incentivos. Entretanto, a fiscalização também será aumentada. Segundo ele, haverá parceria entre estados e a União, além do maior monitoramento por satélite.

"Estamos intensificando a fiscalização dos parques nacionais para combate à irresponsabilidade ambiental", disse em audiência pública no Senado. "O Brasil é o único país do mundo que tem terra suficiente que permite expansão", completou.

A idéia, segundo o ministro, é garantir o aumento da produção de etanol sem prejudicar a produção de alimentos. "Sem quebrar a produção de alimentos, que foi o que aconteceu com o milho americano e sem provocar a carestia alimentar", comentou. "Queremos fazer isso com toda a segurança, com toda a parte técnica, e não apenas com invasão de área protegida."

Em entrevista no Rio de Janeiro em 25 de agosto, Minc negou que o governo estivesse estudando alguma proposta para permitir o avanço da cultura da cana-de-açúcar no pantanal mato-grossense, ao contestar informações veiculadas pela imprensa sobre a exploração de canaviais e a instalação de usinas no bioma.

Na ocasião, ele afirmou que não haverá “um pé de cana no pantanal ou na Amazônia”.


Afirmação do ministro

A Amazônia e o Pantanal Matogrossense estão fora do zoneamento ecológico e econômico para o plantio da cana-de-açúcar. A afirmação é do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, acrescentando que os estudos para a definição das áreas passíveis de plantio para posterior exploração de etanol estão em fase final de elaboração.

A expectativa é de que, até o fim deste ano, o estudo seja concluído. "Não haverá novas usinas de cana na Amazônia nem no Pantanal", afirmou o ministro após audiência pública da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado Federal.

Minc acrescentou que a preocupação do governo está na ampliação da área destinada ao plantio de alimentos, assunto que está sob discussão, neste momento, pelos técnicos do Executivo. "Não basta não afetar áreas ambientais, nós queremos evitar que o aumento do etanol e do biocombustível causem carestia alimentar".

De acordo com o ministro, "o que está sendo afinado até o fim do mês é garantir a expansão da área de alimentos simultaneamente à expansão do etanol". Ele ressaltou que o primeiro plano brasileiro de mudanças climáticas prevê um aumento na produção do etanol em 11% ao ano.

Para que possa cumprir essa meta, o governo necessita de uma área nova de plantio de 6 milhões de hectares. "Temos 60 milhões [de hectares] disponíveis e vamos escolher esses seis nos 60 milhões. O Brasil é o único país que tem terra para aumentar a proteção, aumentar o etanol e aumentar a produção de alimentos com a Amazônia e o Pantanal preservados."


Por Priscilla Mazenotti e Marcos Chagas, repórteres da Agência Brasil.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

"Alimento, um poderoso agente de saúde" abre ciclo de palestras da Grão Natural

A partir de segunda-feira (13/10), a loja Grão Natural de Porto Alegre promove um ciclo de palestras sobre alimentação funcional.

Criada há quase três anos, a loja tem trabalhado junto à comunidade no sentido de incentivar o consumo de alimentos ecológicos e naturais, livres de agrotóxicos e transgênicos,
Neste sentido, está iniciando uma nova fase onde pretende agregar o conhecimento e a conscientização sobre a prática saudável da alimentação.

Num primeiro momento será tratada a alimentação funcional. Segunda-feira (13), a partir das 19h30min, na Av. Benjamin Constant, 1508, Bairro São João, a nutricionista Ângela Gindri Martins, especializada em alimentação funcional e nutrição clínica, abordará o tema "Alimento um poderoso agente de saúde - estilo de vida; o que os alimentos contém".

Ao longo dos próximos meses novos assuntos entrarão na pauta, como a utilização de germinados e cromoterapia. Os eventos são abertos a todos os interessados, com limite de inscrições, que são gratuitas.

Doação de alimentos

O único compromisso do participante é colaborar com um quilo de alimento não perecível (com exceção de sal) que será doado para uma instituição de caridade.

Para o ciclo de debates com a nutricionista Angela Gindri Martins, todo alimento recebido será repassado para o Lar Esperança, instituição filantrópica sem fins lucrativos que há 50 anos contribui para o desenvolvimento da criança e adolescente. O Lar Esperança está localizado na Rua Deodoro, bairro Mário Quintana, em Porto Alegre.

A palestrante atua em nutrição clínica e educação alimentar, possuindo pós-graduação em nutrição funcional pela Universidade Ibirapuera (SP) e produção de alimentos, na Unisinos (RS), além de cursos de extensão em nutrição complementar integrada pelo Instituto Vida Uno, de Brasília (DF) e cursos de extensão em medicina tradicional chinesa.

Em suas atividades comunitárias, Ângela Gindri Martins é voluntária clínica no ambulatório da Cruz Vermelha de Porto Alegre e atua na orientação nutricional e estilo de vida de entidades e grupos comunitários.

As inscrições podem ser feitas pelo telefone (51) 3061.6240 ou na loja Grão Natural, mediante a doação de um quilo de alimento não perecível.

Mais informações pelo http://www.graonatural.com.br/ .

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Corre onça, anta e tatu, voa anhumas, araras.....

Por Tânia Martins

Não desvalorizando outros oásis encravados no Piauí, mas a Serra Vermelha é sim, o mais importante e valioso tesouro natural dos piauienses. Cheguei a essa conclusão ouvindo por dois anos pesquisadores, ambientalistas, o povo do lugar, além de leituras de relatórios, nota técnica e leis. A área, segundo levantamento do Ministério do Meio Ambiente, é prioritária para a conservação por abrigar uma das maiores biodiversidade do interior nordestino.

No levantamento prévio realizado por técnicos do ministério foi encontradas espécies de animais ameaçados de extinção como a onça pintada jacutinga, jacucaca zabelê, tatu canastra, tamanduá-bandeira, sagüi da serra.... O relatório da equipe observa que as nascentes do Rio Gurguéia afloram no topo da serra e que "a região apresenta rica história arqueológica e climática e os elementos da fauna e flora, característicos da Amazônia são testemunhas de épocas em que o clima no sertão do Brasil proporcionava o crescimento de florestas úmidas".

Falam também de um grande ecótono onde se encontram os biomas Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica. Os opositores costumam dizer que a Mata Atlântica não está na Serra Vermelha, no entanto, a Lei que protege a vegetação considera sua presença na área chamando-a de "enclaves florestais nordestinos".



O respeitado Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA, reunido em 22 de fevereiro de 2006 alertou ao MMA que agilizasse a proteção da região oficializando a criação de uma unidade de conservação antes que desapertasse a cobiça de empresas interessadas em seus recursos. A indústria do carvão, no caso a JB Carbon, foi mais esperta e já havia conseguido autorização de quem deveria proteger as matas, IBAMA e Secretaria de Meio Ambiente-SEMAR, para destruir tudo e lucrar muito vendendo suas árvores mortas para manter vivos os fornos das siderúrgicas brasileiras.


Choveram protestos e Ações judiciais que levaram a paralisação do crime. Entrou em cena a força da ministra Marina Silva que reconheceu o valor biológico e patrimonial da Serra Vermelha. Foi um alívio quando se soube que ela havia autorizado a criação do Parque Nacional Serra Vermelha, principalmente pelas futuras gerações e pelo aquecimento do planeta.


Infelizmente, a ministra não agüentou a pressão dos abutres deixando o ministério. Era tudo o que queriam os destruidores da última floresta do semi-árido nordestino. O bando logo armou um esquema para convencer o midiático novo ministro, Carlos Minc, a devolvê-los a Serra Vermelha. Representando os interesses da JB Carbon, o governador Wellington Dias foi ao ministro pedir proteção para os inimigos predadores da floresta. Soa muito estranho o comportamento da autoridade máxima do Estado que, deveria sim, defender o rico patrimônio natural do povo do Piauí, incluindo seus descendentes que virão.

Falam que a JB Carbon, já desgastada pelo o fracasso do projeto Energia Verde, embora clandestinamente tenha continuado devastando a mata do Chapadão do Gurguéia, resolveu que vai mudar o foco da destruição e partir para montar uma termoelétrica movida a árvores dos biomas presentes. Contam nos bastidores do IBAMA que a empresa se compromete em sair catando as árvores da Mata Atlântica para deixá-las em pé, respeitando a Lei, e engolir as do Cerrado e da Caatinga que pra eles só têm valor quando sai dos fornos como carvão.

Sobre o assunto, disse o professor Cineas Santos: "não se preocupe irmãzinha, a História há de puni-los. Já Niéde Guindon comentou: "não tem problema, eles só vão acelerar o processo de desertificação da região que virá mais rápido". Acrescento as falas trechos do poema de Elio Ferreira "O negro fala da Serra Vermelha"

Serra Vermelha - meu Paraíso Verde...

Oh, Deus da chuva, dos rios e da floresta!
Oh, Deus dos homens, dos bichos e da natureza!
A mata virgem virando carvão vegetal e fumaça...
A bicharada em alvoroço sem ter pra onde ir:
Corre onça, maçaroca, macaco e tatu.
Corre veado, anta, cutia e caititu.
Corre camaleão, cobra, gambá...
Voa garça, pato, marreco, Chico preto e arara azul...

Tânia Martins, jornalista ambiental. Reprodução autorizada, citando-se a fonte.

Direitos dos Animais: ética e respeito









Por Jaqueline B. Ramos*

SEMANA MUNDIAL DOS ANIMAIS -
04 A 11 DE OUTUBRO





A análise da forma como nos relacionamos com a natureza suscita uma outra reflexão que merece atenção especial: a forma como o homem se relaciona, usa e/ou explora os animais não humanos.

Hoje em dia não existem mais dúvidas sobre a senciência dos animais (sua capacidade de sentir dor ou prazer) e assuntos como a ética na utilização de animais em circos até o uso de animais pela ciência, passando pelos impactos ambientais e o respeito ao bem-estar animal nos processos da pecuária industrial, estão bem mais presentes na pauta de discussões da sociedade como um todo.

Em meio a esta necessidade do homem de repensar sua “supremacia” sobre os animais não-humanos, uma nova corrente de reflexão e ação vem se delineando e ganhando espaço no Brasil e no mundo: a do Direito dos Animais.

Em 1928, o professor italiano Cesare Goretti afirmou que “quem maltrata um animal desconhece a dor universal que há em cada ser vivente; ofende um direito que existe, mesmo que o animal não tenha os meios para fazê-lo valer.”

Centenas de anos antes personalidades como Francisco Bernardone (São Francisco de Assis), Leonardo Da Vinci e Mahatma Gandhi, este último já no século XX, já emprestavam suas vozes para a defesa dos direitos dos animais.

Mais recentemente nomes como o do filósofo australiano Peter Singer, da primatologista britânica Jane Godall e do escritor sul-africano J.M. Coetzee (prêmio Nobel de Literatura de 2003 com o livro “A Vida dos Animais”) contribuíram, com suas descobertas e estudos, para a construção da percepção de que tratar os animais com respeito e dignidade é mais que uma questão de ética.

Como diz o promotor público Laerte Levai no livro “Direitos dos Animais”, “pouco a pouco as pessoas vão tomando consciência de que, ao tratar com dignidade os animais, não lhe estão concedendo favores, mas fazendo cumprir os direitos que a eles pertencem”.

Direito constitucional: Felizmente, no Brasil, país em que a legislação ambiental é tida como uma das mais avançadas do mundo, a proteção aos animais tem espaço na própria Constituição Federal de 1988.

No artigo 225, inciso VII, define-se que “cabe ao Poder Público proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção das espécies ou submetam os animais à crueldade.”

Esta idéia embasou o artigo 32 da famosa Lei de Crimes Ambientais (9605, de 1998), que considera infração penal a conduta de crueldade para com os animais.

No entanto, como afirma Dr. Laerte no seu livro, apesar de todo o aparato legal, é muito difícil, sem o exercício da cidadania e a efetiva atuação das autoridades, mudar o cenário de desolação que vem causando, há séculos, tanto sofrimento aos animais.

A partir deste raciocínio pode-se afirmar que, além da falta de atuação de fiscalização efetiva dos órgãos competentes, um dos principais obstáculos para a implementação plena dos direitos dos animais seja a subjetividade por trás do conceito de crueldade e maus-tratos.

Por exemplo: manter um animal silvestre preso numa jaula minúscula em um circo pode não ser interpretado como mau-trato caso se acredite no argumento de que os animais são bem alimentados e fazem parte da “família”.

Mas o fato é que o simples fato de privar um animal selvagem de usufruir seu ambiente natural com fins econômicos deve sim ser considerado um mau-trato. Sem contar os outros malefícios causados a animais que são explorados como produtos ou objetos, ou, muitas vezes, caçados e tirados cruelmente de seu habitat.

Dificuldades à parte, o fato é que “Direitos dos Animais” é uma área que vem ganhando cada vez mais vulto e credibilidade. Inclusive no Brasil. No ano de 2005, o professor e promotor de Justiça baiano Heron Santana conduziu um caso que se tornou referência mundial na área.

Juntamente com professores e estudantes de direito e associações de defesa dos animais, Dr. Santana ingressou com Habeas Corpus em favor da chimpanzé Suíça, de 23 anos, que se encontrava no Zoológico de Salvador há 4 anos.

Depois que o companheiro de Suiça, Geron, morreu de câncer, a chimpanzé passou a se comportar de forma estranha, o que justificaria a necessidade de ser solta.

Suiça foi o primeiro animal no mundo a ser reconhecido como sujeito jurídico de uma ação, mas não teve tempo de aproveitar a liberdade. O ganho de causa foi concedido um dia depois em que ela foi achada morta em sua jaula.

Mas mesmo assim o caso cumpriu um papel muito importante para a própria conscientização dos juízes que analisam as causas que dizem respeito aos direitos dos animais.Em 2007 um outro acontecimento mereceu destaque.

O Juiz Gustavo Alexandre Belluzzo, da 6ª Vara Cível da Comarca da cidade de São José dos Campos, aceitou ação civil pública movida pelo Ministério Público do Estado de São Paulo e proibiu o circo Le Cirque de fazer apresentações com animais no território do estado de SP.

O texto da sentença cita a Constituição Federal e uma lei estadual de Proteção aos Animais, de 2005, a apresenta, entre outros argumentos o de que “atestados veterinários e de pereceres positivos do Ibama atendem ao aspecto meramente formalístico. Na prática, a submissão dos animais nos espetáculos circenses leva a uma situação de abusividade e crueldade que não pode mais ser tolerada pela sociedade moderna.”

Apesar desses avanços pontuais, muito ainda há que se percorrer para que os animais sejam tratados com o respeito que merecem. Experimentação com animais e discussões sobre abates humanitários e criação intensiva para alimentação, por exemplo, são assuntos delicados que ainda dividem opiniões e geram conflitos.

Porém, o mais importante é que a discussão seja precedida pela reflexão e resulte em ações. E aí entra o papel e responsabilidade de cada um.

De acordo com o jainismo (religião hindu), não devemos fazer mal a nenhum ser vivo e a libertação depende do nosso esforço individual.

Gandhi, influenciado por esta ideologia, defendia na sua luta pela paz a piedade a todos os animais, lembrando que indefesos e vítimas da maldade humana, estas criaturas não têm forças sozinhas para resistir.

Em outras palavras, poderíamos dizer que todo animal possui direitos e merece ser respeitado. Inclusive você.




*Jornalista e editora do blog Ambiente-se. Foto: Ditty e seu filho, Pedrinho, vivem em um santuário no interior de SP (Jaqueline B. Ramos). Fonte: Livro “Direito dos Animais”, de Laerte Fernando Levai (editora Mantiqueira)

Moradores da Cidade Baixa requerem embargo da obra na Lima e Silva





Moradores do bairro Cidade Baixa protocolaram ontem (6/10) junto ao Ministério Público do Estado um abaixo-assinado com mais de 40 assinaturas solicitando providências quanto à construção de um empreendimento residencial na rua Lima e Silva. A obra de 19 andares foi suspensa pela Secretaria de Meio Ambiente de Porto Alegre (Smam) desde o dia 24 de setembro. É que no local há árvores tombadas pelo Decreto Municipal 6269/77, em especial uma nogueira (no número 777), que não podem ser derrubadas, “e que até o ano passado não apresentava sinais de comprometimento”, destaca o texto do abaixo-assinado dos moradores do bairro. “Estamos requerendo o urgente embargo destas obras e a abertura de Inquérito Civil Público”, afirma o morador e professor Philip de Lacy White, que encabeça o movimento contra o chamado espigão da Cidade Baixa.

De acordo com a Assessoria de Imprensa da Smam, que suspendeu a construção, a empresa deverá mudar o projeto a partir da análise técnica de três laudos apresentados por biólogos contatados pela construtora. “Por enquanto estamos em compasso de espera”, diz a Assessoria.

Além das árvores tombadas, os moradores listam outros “efeitos colaterais”, como a perda da luz do sol nas residências do entorno e um constante congestionamento de carros e pessoas, que vão morar e circular pela área. "Ninguém quer um espigão de 19 andares aqui. Isso vai contra os interesses dos moradores. Nosso patrimônio perderá valor", protesta Philip.

O abaixo-assinado dos moradores foi protocolado na Promotoria do Meio Ambiente e na Promotoria Especializada da Habitação e Defesa da Ordem Urbanística. Quatro representantes do grupo foram recebidos pelo promotor Fabio Sbardelloto. "Nosso alvo é conseguir embargar a obra até que todos os itens estejam esclarecidos e discutidos”, ao anunciar que “outras assinaturas serão juntadas, até porque o protesto está sendo muito bem recebido pelo público a respeito deste caso”.

O abaixo-assinado

Dirige-se este abaixo-assinado às autoridades fiscalizadoras dos interesses difusos no Ministério Público Estadual do Rio Grande do Sul, diante do projeto de construção, em fase inicial, de edifício com duas torres e 19 andares em cada uma delas, na Rua Lima e Silva, 777, Cidade Baixa, em Porto Alegre:
(1) a construção indicada causa irreparável impacto de vizinhança nos quarteirões próximos devido a colocar em risco a saúde, a segurança e a integridade física de moradores e suas famílias e a integridade de suas propriedades;
(2) elimina a fauna e a flora preservadas por Decreto Municipal no local (Dec. 6269 de 1977);
(3) não foi apresentado pelo Município o Estudo de Impacto de Vizinhança determinado por legislação federal;
(3) não foi apresentado o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) aos moradores;
(4) a licença ambiental para a obra é inexistente ou irregular diante da legislação envolvida e do dano de vizinhança e ambiental em questão;
(5) a construção apresentará peso muito superior ao possível de ser suportado pelas características geológicas do local, onde há lençol freático nas imediações e construções recentes já causaram comprometimento da estrutura de outros prédios (como ocorreu como o Ed. 58 da Rua Alberto Torres);
(6) existe posto de gasolina antigo no terreno em construção com desativação de suas instalações sem o procedimento de segurança determinado e sem registro de fiscalização da Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental), o que pode causar risco de explosão, emissão de gases e/ou vapores tóxicos derivados de hidrocarbonetos aromáticos, e contaminação da água;
(7) a construção impedirá os demais moradores do quarteirão de receberem iluminação solar;
(8) no local da construção, há árvores tombadas pelo Dec. Municipal 6269/77, em especial a nogueira do número 777, que não podem ser derrubadas, e que até o ano passado não apresentava sinais de comprometimento;
(9) a operação do empreendimento implicará significativo aumento no fluxo de trânsito de veículos e pedestres em área onde sequer está sendo possível trafegarem carros ou pedestres caminharem após determinados horários;
(10) segundo relato de moradores, já existe problemas de pressão hidráulica no abastecimento de água, mesmo ao nível térreo;
(11) segundo relato de moradores entre os firmatários, já existem problemas com a energia elétrica privada e pública nesta área e graves problemas de vazão de água quando chove, envolvendo esgotos;
(12) novas construções recentes bem mais modestas em suas dimensões já causaram danos a vários prédios nesta área, comprometendo suas estruturas.


Foto: Papagaios no inverno (Philip de Lacy White)

Por Adriane Bertoglio Rodrigues, especial para a EcoAgência de Notícias Ambientais. Reprodução autorizada, citando-se a fonte.

6º Workshop Internacional sobre Radiações Não-Ionizantes

Pesquisadores de diversos países estarão reunidos, entre os dias 14 e 18 de outubro, no Rio de Janeiro, no 6º Workshop Internacional sobre Radiações Não-Ionizantes.

Na ocasião serão analisados os últimos dados científicos relacionados aos efeitos biológicos de radiações não-ionizantes, especialmente aquelas emitidas por antenas e equipamentos de telefonia celular, estações transmissoras de rádio e televisão e linhas de transmissão e distribuição de energia elétrica.

Esta é a primeira vez que o evento, que também abordará aspectos de proteção e limites de exposição a esse tipo de radiação, ocorre em um país da América Latina. Espera-se que as discussões também possam subsidiar novas recomendações para limites de exposição.

A realização tem o apoio dos ministérios da Ciência e Tecnologia, Minas e Energia, Saúde, Meio Ambiente, das Comunicações, Agência Nacional de Energia Elétrica, Agência Nacional de Telecomunicações e Comissão Nacional de Bioeletromagnetismo.

Mais informações: http://www.icnirp.org/NIR2008/NIR2008.htm

Da Agência Fapesp.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A polêmica sobre o ranking do desmatamento na Amazônia

Um dia após divulgar o relatório do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) que listou a relação dos maiores responsáveis pelo desmatamento na Amazônia, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, voltou atrás e admitiu a revisão do documento, em um prazo de 20 dias.

O ranking incluiu em suas primeiras posições o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).A declaração de Minc foi causada pelos questionamentos levantados pelo presidente do Incra, Rolf Hackbart, e pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, sobre a inclusão dos assentamentos entre os grandes responsáveis pelo desmatamento. “Pode ter havido uma certa injustiça”, emendou Minc.

“Em nenhum momento eu disse que os assentamentos, os sem-terras são os maiores responsáveis pelo desmatamento", disse. “Formalmente, os assentamentos são do Incra, mas na verdade são de milhares de pessoas, cada um desmata um tantinho e essa acaba dando um número maior que uma propriedade só”.

O ministro ainda admitiu que não havia lido a lista antes da divulgação. “Confiei no Ibama. A lista estava pronta desde o começo do ano. Eu disse: publiquem”, relatou.

De qualquer forma, Cassel criticou a pasta do Meio Ambiente de ter cometido "erros crassos" ao elaborar o documento. Entre os erros, estão uma coordenada geográfica que não corresponde ao local multado e dois casos de multa aplicada com base em uma imagem de satélite obtida três anos antes da criação do assentamento, em meados da década de 1990.

O próprio presidente interveio na crise entre os Ministérios do Meio Ambiente e de Desenvolvimento Agrário. De Manaus, Lula determinou ao ministro Carlos Minc que faça uma auditoria nas oito multas aplicadas ao Incra por desmatamentos de 2.282 km2 em Mato Grosso.

"Em 20 dias corridos, o Ibama terá de dizer o que está certo e o que não está nessas multas", disse Minc, para logo afirmar que a lista não havia sido produzida por ele. "Ela foi feita pelo Ibama. Perguntei desde quando está pronta e disseram que desde janeiro, fevereiro. Perguntei também por que não foi divulgada. Responderam que não sabiam. Determinei então que ela fosse divulgada, porque só trabalho com transparência".

Foi o estopim para outro mal estar, desta vez entre Minc e a senadora Marina Silva. Em janeiro e fevereiro Marina ainda era a ministra do Meio Ambiente. Ao dizer que a lista existia há nove meses, Minc acabou deixando no ar a insinuação de que sua antecessora havia escondido o relatório, por conter oito vezes o nome do Incra, seis deles encabeçando o rol dos maiores desmatadores.

Marina reagiu: "Não sei se o Minc quis dizer que tive a intenção de ocultar a lista. Porque aí seria faltar ao respeito comigo", disse. Em entrevista ao jornal O Globo, Marina classificou de pirotecnia tornar pública uma lista sem sequer ler antes, mas não citou o nome de Minc.

Ao responder por que o documento do Ibama só apareceu agora, Marina disse que “no momento oportuno, ele seria apresentado. A minha surpresa é dizer que havia interesse em ocultar lista. Isso não faz parte do meu caráter. Todos os que estavam sendo multados estavam aparecendo. Quando eu saí, isso estava em pleno funcionamento. A lista é resultado de um trabalho. Não sei por que não foi anunciada antes”.

“Não é questão de esperar. É uma questão de ser responsável. As coisas sempre foram feitas com critério. Em agosto de 2007, quando identificamos que o desmatamento tinha voltado a crescer, tomamos uma série de medidas, entre elas um decreto do presidente Lula criando um grupo de trabalho de responsabilização ambiental. O objetivo era identificar os maiores criminosos e instruir os processos para processá-los criminalmente. Em 11 de março deste ano, foi assinada a portaria que criou a força-tarefa para dar instrução aos processos e preparar a lista dos cem maiores desmatadores”, explicou.

O presidente do Incra, Rolf Hackbart, também mostrou-se indignado com a divulgação do levantamento. "O maior desmatador do Brasil é o modelo econômico da agricultura e da pecuária. Mato Grosso é um mar de soja. Tem crime ambiental por todo o Estado", rebateu. "O que me surpreende é que exista desmatamento nas unidades de conservação do governo federal, nas terras indígenas. Nós tivemos de fazer acordos que nos obrigam a recuperar áreas degradadas. Nunca tivemos orçamento. Hoje temos. E estamos com mais de 500 pessoas trabalhando nos projetos de recuperação de florestas derrubadas", afirmou.

Segundo ele, as coordenadas geográficas de uma das fotos de satélite feitas pelo Ibama para multar o Incra por desmatamento não batem com nenhum dos assentamentos. Em nota oficial, o MST disse que, na lista dos cem maiores responsáveis pelo desmatamento, a pilhagem de madeira foi travestida de assentamento, como a entidade já havia denunciado ao lado do Greenpeace, em 2007.

Segundo o Movimento, foram criados assentamentos ilegais em benefício de madeireiras na Amazônia Legal. Investigações do Ministério Público Federal e do Greenpeace identificaram a falta de laudos e licenciamento ambiental, além de cadastros adulterados, para criação formal dos chamados “assentamentos fantasmas", destinados ao desmatamento de áreas florestais para extração de madeira.A nota do MST afirma ainda que "cerca de 70% dos assentamentos dos governos FHC e Lula foram criados em terras públicas, por meio da regularização fundiária na região da Amazônia Legal".

E acrescenta:"Participamos da campanha “Desmatamento Zero”, em defesa da Amazônia, ao lado de diversas entidades da sociedade civil. Exigimos a rejeição do Projeto de Lei 6.424/05, do senador Flexa Ribeiro (PSDB), que diminui a área de reserva legal florestal da Amazônia, e a Medida Provisória 422/08, conhecida “PAG (Plano de Aceleração da Grilagem)”, que possibilita a legalização da grilagem na Amazônia. O Ministério do Meio Ambiente deve rejeitar esses projetos devastadores e tomar medidas rígidas para impedir a expansão do agronegócio na Amazônia, que é o principal responsável pelo processo de devastação. Nos últimos cinco meses de 2007, a pilhagem da madeira, a expansão da pecuária e da soja para exportação causaram a devastação de até 7.000 km2, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente".

Por Clarissa Pont, da Agência Carta Maior. Reprodução autorizada, citando-se a fonte.

Desinfetantes deixam bactérias mais fortes


Produtos químicos usados para matar bactérias podem estar fazendo o contrário, deixando os microrganismos ainda mais resistentes. A afirmação é de um estudo publicado na edição de outubro da revista Microbiology.

Segundo a pesquisa, pequenos níveis dessas substâncias, chamadas biocidas, podem fazer com que a potencialmente letal bactéria Staphylococcus aureus se torne mais resistente à ação de antibióticos.

Biocidas são usados em desinfetantes e antissépticos para eliminar micróbios. São comumente empregados na limpeza doméstica, em hospitais, na esterilização de equipamentos médicos e na descontaminação da pele antes de cirurgias.

A pesquisa destaca que se tais produtos forem usados em níveis corretos eles matam bactérias e outros microrganismos. Entretanto, se níveis inferiores aos indicados forem utilizados, os micróbios podem sobreviver, tornando-se resistentes à aplicação.

“Bactérias como o Staphylococcus aureus produzem proteínas capazes de retirar substâncias químicas tóxicas da célula, de modo a interferir com seus efeitos antibactericidas. É um processo que remove antibióticos da célula e torna as bactérias mais resistentes a essas substâncias”, disse Glenn Kaatz, do Centro Médico do Departamento de Assuntos de Veteranos nos Estados Unidos.

Os pesquisadores expuseram amostras de S. aureus retiradas do sangue de pacientes a baixas concentrações de diversos biocidas usados freqüentemente em hospitais. Ao analisar o efeito da exposição, identificaram a produção de mutantes das bactérias com a chamada bomba de efluxo mais desenvolvida, ou seja, com maior fluxo de remoção de toxinas do que o normal.

Segundo eles, se bactérias que vivem em ambientes protegidos são expostas repetidamente a biocidas, por exemplo, durante a atividade de limpeza, elas podem desenvolver resistência a desinfetantes ou, em outros casos, a antibióticos. Estudos anteriores apontaram que tais bactérias contribuem para infecções hospitalares.

“Estamos tentando desenvolver inibidores de bombas de efluxo. Inibidores eficientes poderão reduzir a probabilidade da emergência de novos mecanismos de resistência nas bactérias. Infelizmente os métodos atuais não funcionam eficientemente com uma ampla gama de patógenos, o que não os torna ideais para prevenir a resistência”, disse Kaatz.

“Uma boa alternativa no futuro será a combinação de um inibidor de bomba de efluxo com um agente antimicrobiano, o que reduzirá a emergência de linhagens resistentes e seu impacto clínico”, apontou.

O pesquisador destaca a importância do uso cuidadoso e adequado tanto de antibióticos como de biocidas que ainda não são reconhecidos pelas bombas de efluxo produzidas pelas bactérias.

O artigo Multidrug efflux pump overexpression in Staphylococcus aureus after single and multiple in vitro exposures to biocides and dyes, de Glenn Kaatz e outros, pode ser lido por assinantes da Microbiology em http://mic.sgmjournals.org/.


Foto: Estudo publicado na Microbiology destaca que, se usados incorretamente, desinfetantes e antissépticos podem promover mutações que tornam bactérias resistentes aos produtos químicos (foto: CDC)

Da Agência Fapesp.

Festival Internacional de Cinema Ambiental pela primeira vez em São Paulo, de 08 a 10 de outubro

O Cine-clube Socioambiental Crisantempo e a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciências e Cultura) promovem o Fica (Festival Internacional de Cinema Ambiental pela primeira vez em São Paulo, dias 8, 9 e 10 de outubro.

A mostra itinerante do FICA abre o I Ciclo de Filmes e Palestras do Cine-Clube Socioambiental Crisantempo, que inclui, além do Fica-SP, uma programação fixa todas as quartas-feiras com filmes e debates sobre diversos temas na área socioambiental.

O Fica é realizado anualmente na Cidade de Goiás desde 1999 pela Agência Goiana de Cultura – Agepe – e é um dos maiores festivais cinematográficos sobre o meio ambiente.

Foi criado com a finalidade de divulgar obras audiovisuais, com temática ambiental, produzidas em qualquer parte do mundo, e de promover uma interação entre cinema e ecologia através da discussão sobre a preservação do meio ambiente.

Por uma iniciativa da Sala Crisatempo e da Unesco, o Fica acontece pela primeira vez em São Paulo durante 3 dias com os filmes vencedores da décima edição do Festival.

Entre eles, "Delta, o Trabalho Sujo do Petróleo", sobre o vazamento de petróleo e a rotina dos moradores da região; "A Barganha Assassina", sobre as condições sob as quais alguns bens de consumo são produzidos, e "A Lenda da Terra Dourada", sobre migrantes que trabalham em fazendas de gados sendo tratados como escravos no Pará.

Serviço:

FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA AMBIENTAL (FICA)

Data: 08 a 10 de outubro
Local: Sala Crisantempo – Rua Fidalga, 521 – Vila Madalena – tel. (11) 3819 2287
Entrada franca

P R O G R A M A Ç Ã O

8/10 – QUARTA-FEIRA

15h Lições tardias para avisos antecipados – Melhor série ambiental de TV e melhor filme na opinião do público.
Diretor: Jakob Gottshau – Dinamarca – 58 min – série televisiva, 20061o. capítulo: Epidemia do cigarro – 29 min2o. capítulo: Veneno mortal – 29 min

16h Benzeduras – Melhor produção goiana.Diretor: Adriana Rodrigues – Brasil (GO) – 72 min – documentário, 2007

17h Uma barganha assassina Diretor: Tom Heinemann – Dinamarca – 57 min – documentário, 2006

18h Batida na floresta – Melhor média–metragem e troféu imprensa.
Diretor: Adrian Cowell – Reino Unido/Brasil – 58 min – documentário, 2006

19h A lenda da terra dourada Diretor: Stéphane Brasey – Suíça – 54 min – documentário, 2007

20h Jaglavak, príncipe dos insetos – Melhor obra do festival.
Diretor: Jerôme Raynaud – França – 52 min – documentário, 200621h Delta, o jogo sujo do óleo – Melhor longa–metragem. Diretor: Yorgos Avgeropoulos – Grécia – 64 min – documentário, 2006

22h Os olhos fechados da América Latina Diretor: Miguel Mirra – Argentina 84 min – documentário Ano?

9/10 – QUINTA-FEIRA

13h30 Os olhos fechados da América Latina Diretor: Miguel Mirra – Argentina – 84 min – documentário

15h00 Delta, o jogo sujo do óleo – Melhor longa–metragem. Diretor: Yorgos Avgeropoulos – Grécia – 64 min- documentário, 200616h Jaglavak, príncipe dos insetos – Melhor obra do festival.
Diretor: Jerôme Raynaud – França – 52 min – documentário, 2006

17h A lenda da terra dourada – Diretor: Stéphane Brasey – Suíça – 54 min – documentário, 2007

18h Lições tardias para avisos antecipados – Melhor série ambiental de TV e melhor filme na opinião do público.
Diretor: Jakob Gottshau – Dinamarca – 58 min – série televisiva, 2006 1o. capítulo: Epidemia do cigarro – 29 min2o. capítulo: Veneno mortal – 29 min

19h Benzeduras – Melhor produção goiana.Diretor: Adriana Rodrigues – Brasil (GO) – 72 min – documentário, 2007

20h Uma barganha assassina – Diretor: Tom Heinemann – Dinamarca – 57 min – documentário, 2006

21h Batida na floresta – Melhor média–metragem e troféu imprensa.
Diretor: Adrian Cowell – Reino Unido/Brasil – 58 min – documentário, 2006

22h Delta, o jogo sujo do óleo – Melhor longa–metragem. Diretor: Yorgos Avgeropoulos – Grécia – 64 min - documentário, 2006

10/10 – SEXTA FEIRA

15h Jaglavak, príncipe dos insetos – Melhor obra do festival.
Diretor: Jerôme Raynaud – França – 52 min – documentário, 2006

16h Batida na floresta – Melhor média–metragem e troféu imprensaDiretor: Adrian Cowell – Reino Unido/Brasil – 58 min – documentário, 2006

17h Benzeduras – Melhor produção goiana.Diretor: Adriana Rodrigues – Brasil (GO) – 72 min – documentário, 2007

18h Uma barganha assassina – Diretor: Tom Heinemann – Dinamarca – 57 min – documentário, 2006

19h A lenda da terra dourada – Diretor: Stéphane Brasey – Suíça – 54 min – documentário, 2007

20h Delta, o jogo sujo do óleo – Melhor longa–metragem Diretor: Yorgos Avgeropoulos – Grécia – 64 min- documentário, 2006

21h Lições tardias para avisos antecipados – Melhor série ambiental de TV e melhor filme na opinião do público.
Diretor: Jakob Gottshau – Dinamarca – 58 min – série televisiva, 20061o. capítulo: Epidemia do cigarro – 29 min2o. capítulo: Veneno mortal – 29 min

22h Os olhos fechados da América Latina Diretor: Miguel Mirra – Argentina 84 min – documentário


Por Mariana Candeias / Divulgação. Reprodução autorizada, citando-se a fonte.

domingo, 5 de outubro de 2008

WSPA lança documentário na Semana Mundial dos Animais



Durante todo o mês, e principalmente durante a Semana Mundial dos Animais, de 4 a 11 de outubro, a WSPA Brasil e as suas afiliadas reservam uma programação especial em homenagem aos animais. O destaque é o lançamento do filme “Animais: Seres Sencientes” em 41 cidades brasileiras e no Distrito Federal.

Criado em 1931 por um grupo de ecologistas em Florença, na Itália, o Dia Mundial dos Animais, celebrado em 4 de outubro, inicialmente tinha como objetivo fazer as pessoas refletirem sobre o perigo da extinção das espécies.

Desde então o dia passou a abranger todos os animais e a ser comemorado mundialmente, despertando nossa consciência para tratá-los com mais respeito, valorizando seu bem-estar e mantendo-os livres dos maus-tratos e da crueldade.

O lançamento do filme “Animais: Seres Sencientes” acontecerá durante a Semana Mundial dos Animais por todo o Brasil, através de atividades promovidas pela WSPA e suas afiliadas, e também pelo IBAMA em Manaus.

O vídeo procura mostrar que, de acordo com as mais recentes pesquisas científicas, todos os animais vertebrados (mamíferos, aves, répteis, anfíbios, peixes) são seres sencientes, ou seja, capazes de sentir dor, medo, prazer, alegria e estresse – além de terem memória e até saudade.

Para transmitir esses conceitos, o documentário conta com a participação dos maiores especialistas em bem-estar animal do Brasil e do mundo, que falam de maneira clara e didática sobre os animais (de companhia, de produção, selvagens, de entretenimento, etc.).
Declaração Universal
A Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA) lançou, em junho de 2006, um importante documento para estabelecer critérios uniformes para a proteção dos animais em todo o mundo: a Declaração Universal de Bem-Estar Animal – DUBEA.

Um acordo que estabelece diretrizes básicas de bem-estar, reconhecendo os animais como seres sencientes (que têm sentimentos) e sua proteção como importante meta para o pleno desenvolvimento social das nações.

A WSPA lidera uma coalizão mundial de organizações que apóiam a campanha Para Mim os Animais Importam, cujo objetivo é recolher o maior número possível de assinaturas até 2010 e levar o plenário da Organização das Nações Unidas a votar a DUBEA.

Com isso, a WSPA pretende garantir métodos efetivos para coibir práticas de maus-tratos aos animais, criando parâmetros internacionais de orientação. A DUBEA viria a influenciar legislações de diversos países, encorajando-os a criar ou a melhorar suas leis voltadas ao bem-estar animal.

Leia mais: Semana Mundial dos Animais no Brasil

Redação da EcoAgência/WSPA. Reprodução autorizada, citando-se a fonte.

Solo amazônico não suporta modelo agrícola


Pesquisador aponta, em tese de doutorado na Escola de Engenharia de São Carlos (USP), que o solo da Amazônia não suporta o modelo de agricultura a que está sendo submetido, ocasionando efeitos prejudiciais ao ambiente e à saúde das populações.

Apoiar políticas de desenvolvimento sustentável e de proteção dos ecossistemas da Amazônia que visem à reversão do processo de degradação, para uma melhor qualidade de vida na região, é a contribuição da tese de doutorado "O seqüestro de carbono e as substâncias húmicas na área de influência da BR-163 (Cuiabá–Santarém)", defendida por Orlando Paulino da Silva, no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP). Para o autor, que é servidor da Fiocruz Amazônia, o solo da região não suporta o atual modelo de agricultura.

“O conhecimento do comportamento das substâncias húmicas dentro da matéria orgânica do solo é importante, pois oferece subsídios para um maior entendimento do ciclo de carbono na Amazônia. Uma das conclusões do estudo é que o solo da Amazônia não suporta o modelo de agricultura a que está sendo submetido, ocasionando efeitos prejudiciais ao ambiente e à saúde das populações”, ele afirma.

Pela qualidade de vida

De acordo com Paulino, os resultados e dados do estudo contribuem para apoiar políticas de desenvolvimento sustentável e de proteção dos ecossistemas da Amazônia. “O foco principal são as substâncias húmicas do solo, bem como o seqüestro de carbono orgânico, com vistas à reversão do processo de degradação, em busca da melhoria na qualidade de vida regional e, por que não, global”, ele assinala.

A tese teve como objetivo relacionar as características das substâncias húmicas do solo com o processo de remoção de gás carbônico da atmosfera em sítios de floresta em clímax, ou seja, que já alcançaram um estágio pleno de desenvolvimento e encontram-se protegidas no ecossistema terrestre, bem como em área que sofrem a ação do homem de forma moderada e intensa, como os ambientes de influência da rodovia BR-163 (Cuiabá–Santarém).

Dois terços do carbono orgânico

A região experimenta um incremento das ações humanas em função do anúncio da pavimentação da rodovia. Segundo Paulino, as substâncias húmicas representam parte da matéria orgânica que, após várias transformações, permanecem no ambiente.

Essas substâncias representam dois terços do carbono orgânico contido no solo. São constituídas de uma mistura heterogênea, polifuncional, sem características físicas e químicas definidas e em diferentes graus de polidispersão.

A justificativa do autor para fazer o estudo foi a necessidade de compreender os ciclos de nutrientes e a dinâmica da matéria orgânica no ecossistema da Amazônia para um domínio do manejo eficiente da floresta e do solo, a partir do estudo das características das substâncias húmicas que remete à capacidade de sustentabilidade para os usos múltiplos em cultivos, aparecendo como indicador da qualidade do solo. Isto se deve à preocupação despertada pelo desaparecimento de florestas tropicais, acompanhado de acelerados processos de perda de solo e de matéria orgânica, pelo desmatamento, queimadas e avanço da fronteira agrícola.

Conclusão com técnicas de luz

Para determinar as características das substâncias húmicas foram utilizadas técnicas de espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier (FTIR), análise elementar, espectroscopia de fluorescência de luz no UV/visível, espectroscopia de absorção de luz no UV/visível, espectroscopia de ressonância magnética nuclear (RMN) e espectroscopia de ressonância paramagnética eletrônica nuclear (EPR).

Dos resultados encontrados verificou-se uma elevada aromaticidade, policondensação e grau de humificação que proporcionam aumento da biodiversidade, incremento da produtividade, melhoria da estrutura deste solo, contribuindo junto à formação de fração húmica não lábil, que oferece resistência ao escoamento, bem como maior estabilidade dos complexos organominerais, condições favoráveis para a remoção de gás carbônico da atmosfera e mitigação do aumento do efeito estufa.

O Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental procura evidenciar, identificar, discutir e propor soluções em relação aos problemas ambientais decorrentes da atuação do homem em seu meio, bem como analisar ecossistemas, a fim de caracterizá-los e descrevê-los, criando uma fonte de informações sobre os vários aspectos bióticos, abióticos e antrópicoas de algumas regiões do Brasil.


Por Ana Paula Gióia, Agência Fiocruz de Notícias.

Ecodicas para as eleições de domingo

Dois anos depois da estréia do programa Cidades e Soluções e com 88 programas já exibidos na Globo News, é possível fazer um apanhado de intervenções inteligentes, oportunas e sustentáveis nas cidades.

Assim, gostaríamos de compartilhar algumas breves opiniões que, eventualmente, poderão ser úteis na hora do voto.

1) Previna-se das soluções mágicas, miraculosas, espetaculares. A maioria absoluta das soluções mostradas nos programas são simples, de execução relativamente barata e fácil de replicar.

2) Originalidade nem sempre é algo importante. Há inúmeros exemplos de soluções já experimentadas e bem sucedidas em cidades do Brasil e do exterior. Às vezes é melhor replicar o que já deu certo por aí, do que perder tempo (e dinheiro) criando algo novo apenas por vaidade.

3) Quem cuida do lixo é o prefeito. É do alcaide a atribuição institucional de coletar, transportar e destinar adequadamente os resíduos sólidos urbanos. Você conhece as propostas do seu candidato para o lixo de sua cidade? É incrível como a maioria dos candidatos foge desse assunto como o diabo da cruz. Há dezenas de soluções inteligentes para os resíduos - reciclagem, reutilização, transformação em insumos agrícolas, adubos orgânicos, fontes de energia, etc. - de comprovada eficácia. Entretanto, na maioria absoluta das cidades brasileiras, o destino final dos resíduos é o lixão. Prefeito ignorante não sabe o que fazer com o lixo e, nesses casos, costuma dar o destino errado. Resultado: desperdício de energia com graves consequências ambientais e sociais.

4) Que cuidados o seu candidato terá com as compras públicas municipais? Já mostramos no "Cidades e Soluções" que as compras feitas pelos governos muncipais, estaduais e federal movimentam recursos equivalentes a 10% do PIB. É muito dinheiro! Pois essas compras - feitas com o nosso dinheiro - podem ser realizadas com editais de licitação que pontuem produtos e serviços certificados ambientalmente, que não explorem mão de obra escrava ou infantil. Isso já acontece em várias cidades do Brasil e do exterior. O seu candidato se preocupa com isso?

5) Seu candidato considera uma boa idéia os consórcios intermunicipais? É comprovado que a união faz a força nas cidades quando elas se unem para fazer a gestão do lixo, da saúde, da educação, dos transportes, saneamento, segurança, etc. Mas tem prefeito por aí que não aceita dividir a foto da inauguração com outros colegas. Pura vaidade. Quem perde é o contribuinte.

6) Prefeito e vereador corruptos viram vidraça! Mostramos a articulação de organizações que se espalham rapidamente pelo Brasil fiscalizando as contas e os atos do Executivo e do Legislativo municipal. As prisões e os afastamentos de prefeitos e vereadores que pisam na bola ocorrem na escala da centena.

Em tempo: Vote com consciência e ajude a sua cidade a ser um lugar melhor e mais justo.


Por André Trigueiro, produtor e apresentador do Cidades e Soluções, http://especiais.globonews.globo.com/cidadesesolucoes/

Políticas para biocombustíveis


“Sistemas de produção sustentável de biocombustíveis poderão ter um papel altamente positivo na mitigação das mudanças climáticas, na melhoria da qualidade do ambiente e no fortalecimento da economia mundial, mas, para que isso ocorra, serão necessárias muitas pesquisas e políticas com sólida base científica.”

A afirmação, de um grupo internacional de especialistas em biocombustíveis, agronomia, economia, biologia e conservação, foi publicada na edição desta sexta-feira (3/10) da revista Science. O artigo é resultado das discussões feitas durante workshop realizado pela Sociedade Ecológica dos Estados Unidos em março.

Entre os 23 pesquisadores que assinam o texto estão dois brasileiros: José Goldemberg, do Centro Nacional de Referência em Biomassa, vinculado ao Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo, e Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.

Segundo os cientistas, combustíveis à base de celulose, produzidos a partir de partes não-comestíveis ou tradicionalmente não-consumíveis de plantas, têm grande potencial de se tornar uma alternativa importante para os combustíveis fósseis e mesmo para o etanol à base de grãos, como soja ou milho.

Entretanto, os benefícios potenciais podem ser superados por escolhas infelizes, como plantio em locais errados ou práticas de gerenciamento ineficientes, que causam danos ambientais, destacam os autores. Segundo eles, há muitas questões que precisam ser respondidas – e algumas que nem foram colocadas ainda – a respeito das implicações do plantio com fins de obter biocombustíveis de celulose.

“A indústria de biocombustíveis de celulose pode ter muitos atributos sociais e ambientais positivos, mas pode também sofrer de vários dos problemas de sustentabilidade que envolvem os combustíveis à base de grãos, caso não seja implementada da maneira certa”, disseram.

“Sabemos que os sistemas de plantio de biocombustíveis baseados em grãos, da forma como são conduzidos atualmente, oferecem risco ambiental. Além da questão da dívida de carbono, criada pela área limpa em outros locais para repor a produção de alimentos que foi substituída [pelo plantio destinado a combustíveis], o plantio mais intensivo de nossas terras, com quantias de biomassa extraída cada vez maiores, pode facilmente exacerbar os problemas ambientais existentes”, destacaram.

Para os pesquisadores, é fundamental que os tomadores de decisão “em todos os níveis” entendam que aplicar as melhores práticas para a produção de biocombustíveis terá impactos positivos tanto para sustentabilidade das áreas cultiváveis como para fornecer um espaço a longo prazo para os biocombustíveis no portfólio de energias renováveis.

E, de acordo com eles, as políticas necessárias para que isso seja feito simplesmente não existem atualmente. “Padrões ambientais são necessários agora, antes que a indústria se mova da fase de pesquisa e desenvolvimento”, afirmou Phil Robertson, professor da Universidade Estadual de Michigan e primeiro autor do artigo.

No 1º Simpósio sobre Etanol de Celulose, realizado na sede da FAPESP em setembro, Goldemberg destacou a melhor posição do Brasil quanto aos Estados Unidos, com relação ao potencial de exploração do etanol.

“Os Estados Unidos utilizam o milho. O problema com o milho é que o calor usado para produzir o etanol vem de fora, ao contrário do que ocorre com a cana-de-açúcar. Como a matriz energética deles se baseia em carvão, no fundo, o uso do milho se resume a transformar carvão em etanol, o que compromete o balanço energético”, explicou.

O simpósio foi realizado como parte do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), na linha de pesquisa de Biomassa para Bioenergia. O objetivo foi definir estratégias para obtenção de etanol a partir da celulose da cana-de-açúcar por meios genéticos e bioquímicos.

O artigo Sustainable biofuels redux, de Phil Robertson e outros, pode ser lido por assinantes da Science em http://www.sciencemag.org/.


Foto: Em artigo na Science, 23 especialistas de diversos países, entre os quais o Brasil, destacam a importância de normas e políticas para a produção de combustíveis a partir da celulose, de modo a evitar problemas ambientais e econômicos (Science)

Da Agência Fapesp.